O Ministério da Educação (MEC) virou centro de uma discussão entre editores da Wikipédia. Segundo O Estado de S. Paulo, a pasta pediu que o verbete do ministro Abraham Weintraub fosse excluído por conter “informações não confirmadas”.
Na mensagem, o MEC argumentou que o artigo poderia levar a “interpretações dúbias” e que deveria sair do ar por conta da “impossibilidade de edição” por parte do ministério. O e-mail foi compartilhado na íntegra na Wikipédia pelo editor que a recebeu em seu conta pessoal.
“A Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Educação do Brasil, tomando conhecimento da criação desta página no dia 8 de abril de 2019 e a da impossibilidade de edição por este órgão governamental, solicita a exclusão da página do ministro Abraham Weintraub”, diz o e-mail.
“A página contém informações não confirmadas com a pessoa pública ora em destaque, contribuindo para interpretações dúbias. Com a restrição, a pessoa física/jurídica fica incapacitada de declarar a ampla defesa e o contraditório”, finaliza.
Como destaca a mensagem, a página de Weintraub no site foi criada em 8 de abril, quando foi nomeado ministro pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele foi escolhido para substituir Ricardo Vélez Rodriguez, que permaneceu no cargo por pouco mais de três meses.
O pedido de exclusão do verbete foi enviado a um usuário identificado como Chronus, responsável pela última modificação da página até então. O editor não havia alterado o conteúdo do texto, mas restringiu a edição para que usuários sem boa reputação pudessem fazê-lo.
Ao compartilhar a mensagem do ministério na Wikipédia, Chronus pediu sugestões de colegas. “Caberia alguma resposta formal da comunidade quanto à solicitação do MEC?”, perguntou no site, na segunda-feira (1º).
Os demais editores sugeriram que Chronus pedisse mais explicações sobre pontos que o ministério considerou problemáticos e que destacasse a impossibilidade de um usuário excluir um verbete da Wikipédia por conta própria.
Ao Tecnoblog, Rodrigo Padula, um dos administradores da Wikipédia em português e coordenador de projetos na Wiki Educação Brasil, explica que os verbetes do site são textos biográficos criados com base em fontes verificáveis na mídia tradicional e que não podem ser controlados pelos biografados.
“Qualquer pessoa pode complementar e melhorar o verbete, logo, tudo que acontece na vida do biografado (de bom ou ruim) que é apresentado e publicizado, cedo ou tarde acaba sendo incorporado no verbete, como acontece com qualquer outro tipo de publicação biográfica”, afirma.
Ele lembra ainda que há entendimento favorável do Supremo Tribunal Federal quanto à publicação de biografias não autorizadas. “Este pedido realizado pelo ministro através da assessoria de comunicação do MEC é uma grande afronta à liberdade de expressão e ao conhecimento aberto e com certeza pode ser vista como uma tentativa de repreensão e censura pelo pedido realizado ao editor da Wikipédia”.
O Ministério da Educação confirmou o envio do e-mail. A pasta, no entanto, não apontou quais seriam as “informações não confirmadas”.
Post atualizado às 12h44, com a confirmação do MEC, e às 15h21 com o posicionamento do colaborador da Wikipédia.
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