Direto de San Jose, Califórnia — Depois de seis anos sem grandes mudanças, a nova geração do Mac Pro finalmente chegou. Ele continua sendo um desktop caro e voltado para profissionais que precisam de muita capacidade de processamento, só que o design mudou: a Apple praticamente admitiu que o formato cilíndrico e compacto do modelo passado não deu certo, e voltou às origens com uma máquina quadradona e expansível.
O novo Mac Pro tem uma carcaça de aço inoxidável, puxadores de metal e um monte de buracos para circular melhor o ar. E não tem como deixar passar: assim que ele apareceu de frente no telão da apresentação, muita gente lembrou imediatamente de um ralador de cozinha. E isso porque a geração passada já tinha cara de lixeira ou cafeteira — parece até que Jony Ive faz de propósito para gerar burburinho.
Estaria Sir Jony Ive nos trollando?
Para quem trabalha, o que importa é que o Mac Pro ficou absurdamente potente. Ele ostenta coisas como processador Intel Xeon W de 28 núcleos, até duas placas de vídeo Radeon Pro Vega II com 64 GB de memória e até 4 TB de SSD. E espaço físico não é problema: dá para colocar até doze (!) módulos de RAM, o que significa que você pode comprar um desktop com 1,5 TB de memória (se tiver muito dinheiro).
É um computador feito para durar vários anos, até porque o design finalmente foi pensado para receber upgrades, como a gente esperaria de qualquer máquina profissional. Por dentro, o Mac Pro tem oito slots de expansão PCI Express — quem imaginava que a Apple, que deixa todos os componentes soldados ou colados nos MacBooks, lançaria algo assim em 2019?
Mas o interessante é o que dá para fazer com o brinquedinho: no palco, a Apple mostrou o Mac Pro aplicando efeitos 3D em um vídeo em 8K em tempo real no Final Cut e processando uma música com mais de 1.000 faixas (!) no Logic Pro como se fosse um arquivo MP3 qualquer. Com a placa aceleradora Afterburner, dá para reproduzir simultaneamente três vídeos em RAW em 8K ou 12 vídeos em 4K. Isso deve consumir bastante energia: o Mac Pro já vem de fábrica com uma fonte de alimentação de 1,4 kW.
A questão é que tudo isso custa muito caro: a versão mais básica, que tem números menos impressionantes, como um Xeon W octa-core, 32 GB de RAM e só 256 GB de SSD, custa US$ 5.999. O Mac Pro vai ser lançado no Brasil e ainda não teve o preço divulgado, mas é só lembrar que a geração passada, que foi lançada por US$ 3 mil no exterior, custa a partir de R$ 23,5 mil em terras tupiniquins. Então espere algo em torno de R$ 50 ou 60 mil no modelo novo de entrada.
Ou seja, a facada da Apple é grande — e isso considerando só o preço do computador. Quem trabalha com imagem provavelmente deve pensar em adquirir também o Apple Pro Display XDR, um monitor de 32 polegadas com resolução 6K que tem design parecido com o do novo Mac Pro. Ele também possui vários furos na carcaça, que fazem a mesma função de resfriar o equipamento.
Esse design impraticável para quem tem tripofobia é necessário, segundo a Apple, para que o monitor atinja níveis de brilho mais altos. Como qualquer tela LCD, o consumo de energia e a geração de calor aumentam de acordo com o brilho. As TVs mais caras do mercado, como as Samsung QLED, chegam em torno dos 500 nits de brilho máximo sustentado na tela inteira — o que já é muito alto. No Pro Display XDR, a promessa é de 1.000 nits, com picos de 1.600 nits.
E, claro, ele tem todos aqueles requisitos que aumentam bastante o custo: são 576 zonas de local dimming para melhorar o contraste, laminação completa para diminuir a reflexividade e calibragem individual de fábrica para garantir a precisão nas cores. Com tudo isso, o preço fica pornográfico para pobres mortais: US$ 5 mil com vidro comum ou US$ 6 mil com vidro especial antirreflexo. E o monitor vem sem a base — se quiser uma da Apple, precisa pagar mais US$ 1 mil.
Nesta edição da WWDC, a Apple não apresentou nenhum produto físico que seja viável para o público em geral — mas certamente vai atingir o nicho do nicho que não encontrava mais um computador potente ou um monitor profissional da Apple no mercado.
Paulo Higa viajou para San Jose, Califórnia, a convite da Apple.
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