Direto de San Jose, Califórnia — Mais um ano, mais um macOS: a versão 10.15 do sistema operacional para Macs se chama Catalina e chega até o final do ano para trazer mais integração com o iPad, proteger melhor as suas informações e decretar a morte de um dos programas mais icônicos da Apple, o iTunes, depois de quase vinte anos na ativa.
E quais são as 10 novidades mais importantes do Catalina, ou “Cat”, para os íntimos? Eu instalei o beta no meu MacBook e conto tudo nos próximos minutos.
O iTunes foi lançado em 2001 como um player de música e, desde então, ganhou um monte de funções. Um monte. Mesmo. Tanto que a própria Apple brincou com o fato de que ele já faz muita coisa: só faltava ter um calendário, um cliente de e-mail, um navegador web e um dock para abrir outros aplicativos dentro do iTunes. Felizmente, o macOS Catalina acabou com a bagunça.
O aplicativo gigante da Apple foi desmembrado em três: Músicas, Podcasts e Apple TV. Nenhum deles sincroniza dados ou faz backup local de iPhones e iPads: agora, a ferramenta está dentro do Finder, o que faz muito mais sentido. Isso também deve fortalecer o novo serviço de streaming da Apple, o Apple TV+, que será lançado no terceiro trimestre e não ficará mais sob um mesmo guarda-chuva.
Sabe o que mais pode ser fortalecido com a morte do iTunes? Os podcasts. Eles já se tornaram a mídia queridinha de 2019, recebendo fortes investimentos e uma audiência nova (tem um programa muito bom, que se chama Tecnocast — recomendo). O aplicativo dedicado do macOS certamente é uma boa vitrine para os podcasts, que até então ficavam escondidos dentro de um menu no iTunes.
Além de ter desenvolvido um aplicativo separado, a Apple criou novas categorias de podcasts, passou a notificar usuários quando um episódio novo é publicado e melhorou a ferramenta de busca, permitindo pesquisar por apresentador, convidado ou assunto. Os episódios serão transcritos automaticamente pela Apple, para que seja mais fácil encontrar o que você quer.
É até estranho que a Apple só tenha feito esse movimento agora, já que a empresa sempre teve um acervo gigante, hoje com mais de 700 mil programas cadastrados — e o próprio nome “podcast” carrega o nome de um de seus produtos, o iPod.
No macOS 10.14 Mojave, a Apple mostrou um embrião do que agora é oficialmente conhecido como Projeto Catalyst. Basicamente, o Catalina abre espaço para que os desenvolvedores portem seus aplicativos do iPad para o macOS de forma simples. Isso envolve redes sociais, como o Twitter, ferramentas profissionais, como o Jira, ou até jogos mais pesados, como o Asphalt 9: Legends.
Eu acompanhei uma sessão para desenvolvedores em que a Apple explicou o processo de migrar um app de iPad para o Mac. São apenas três passos: 1) marcar uma opção no Xcode para compilar o app para macOS; 2) assegurar-se de que o app funcione bem no iPad, com suporte para tela grande, teclado externo e outros recursos; 3) personalizar o app para o Mac, podendo colocar barras de ferramentas, menus e atalhos na Touch Bar dos MacBooks.
A Apple não admite, mas me parece uma forma de aproximar ainda mais o iOS (agora iPadOS) do macOS que, segundo os rumores, deverá rodar em chips da própria Apple com arquitetura ARM a partir de 2020. Veremos.
A aproximação do macOS com o iPad não se resume aos aplicativos. Com o recurso Sidecar, o Catalina pode usar o tablet como uma segunda tela, essencialmente matando aplicativos como o Duet Display, que custava R$ 54,90.
O Sidecar é bem versátil. Dá para usar o iPad como um espelho ou uma extensão da tela do Mac, e a conexão pode ser feita com ou sem fio. Tem mais: a Touch Bar, que é restrita aos MacBooks Pro mais caros, pode ser exibida na parte inferior da tela do iPad. E o iPad ainda se transforma em uma mesa digitalizadora, permitindo fazer ilustrações ou simplesmente rabiscar com o Apple Pencil no Mac.
Recursos de bem-estar digital são uma tendência: eles já existem no iOS, no Android e agora no macOS. O Tempo de Tela mostra como você está gastando seu tempo no Mac, quais apps são mais usados e quantas notificações você está recebendo. Às vezes eu acho que estou trabalhando além da conta, ou que estou muito distraído em um determinado dia — essa nova função pode ajudar no diagnóstico.
Naturalmente, os dados de uso podem ser sincronizados com o iCloud e combinados com o tempo gasto no iPhone e no iPad. Além disso, os pais ganharam controles adicionais: dá para escolher com quais pessoas seu filho pode se comunicar em determinados horários, e restringir o tempo que eles podem ficar na frente do computador.
O bloqueio de ativação finalmente chegou aos Macs. Nos iPhones e iPads, esse recurso torna os roubos e furtos de eletrônicos quase inúteis: mesmo que alguém restaure o aparelho para as configurações de fábrica, só é possível usá-lo depois de digitar corretamente a senha do iCloud do proprietário.
Com a função ativada, o roubo de Macs também deixa de valer a pena. É claro que alguém pode desmontar a máquina e vender as peças separadamente. Mas, nesse caso, o que é um problema da Apple acaba virando uma força: os MacBooks estão cada vez menos “consertáveis” pelo próprio usuário, com componentes todos soldados ou colados, de modo que não há tanto para se aproveitar de um Mac bloqueado.
Existem algumas mudanças nas permissões do macOS. A primeira é que os arquivos vitais do sistema operacional agora ficam em um volume separado, que só tem permissão de leitura. Isso significa que nenhum software mal intencionado pode modificar ou apagar arquivos importantes, deixando o sistema mais seguro.
A outra novidade é que os apps não podem ler seus documentos sem permissão — isso vale inclusive para arquivos esquecidos na área de trabalho ou na pasta de downloads. Também não é possível gravar a tela ou capturar teclas digitadas em outros aplicativos.
É engraçado que justamente a Apple tenha implementado essas proteções: houve em uma época em que a empresa tirava sarro do Windows Vista, porque ele pedia autorização para tudo. Hoje, o macOS é até mais blindado, e isso é vendido como um recurso de privacidade e segurança.
Encontrar um celular ou um computador perdido é fácil se ele estiver conectado à internet e com GPS ativo. Mas o macOS Catalina (e o iOS 13) ganharam um aplicativo chamado Buscar, que consegue localizar um iPhone ou Mac mesmo se eles estiverem offline.
Isso é feito por meio de uma rede de Macs e iPhones interligados ao redor do mundo. De vez em quando, um Mac pode enviar um sinal Bluetooth, que é recebido por outro Mac, que é recebido por outro Mac, que então encontra o Mac perdido, como se fosse uma rede mesh. A Apple promete que o sinal é criptografado e o consumo de bateria não é afetado.
Eu só quero ver se isso vai funcionar direito no Brasil, onde a penetração de dispositivos da Apple não é tão grande como nos Estados Unidos.
O Apple Watch já servia para desbloquear um Mac automaticamente quando você estivesse por perto. Agora, a integração ficou mais profunda: ele se tornou a sua senha.
Qualquer recurso do macOS que exija digitar sua senha de usuário (por exemplo, visualizar suas senhas no Safari) pode ser acessado dando um duplo clique no botão lateral do Apple Watch. Isso também funciona para aprovar instalações de aplicativos, desbloquear notas com senha e acessar configurações sensíveis.
O macOS Catalina ganhou melhorias em acessibilidade, como uma nova voz para o leitor de tela VoiceOver, suporte para mais tabelas braille e melhorias no suporte do VoiceOver para o Xcode, permitindo que mesmo quem não enxerga possa desenvolver seus aplicativos. Mas a principal novidade é, sem dúvida, o Controle por Voz.
Basicamente, é possível navegar por todo o macOS sem usar as mãos. Dá para abrir aplicativos, fechar janelas, arrastar e soltar um item, dar zoom e mais por meio de voz. Mesmo aplicativos mal projetados podem ser usados: com o comando “mostrar grid”, o sistema exibe uma tabela dividida em várias células com números. Ou seja, é possível clicar, arrastar e selecionar qualquer ponto da tela, sem exceção.
Com essas novidades, o macOS fica mais preparado para quem tem deficiência visual, auditiva ou motora — e o iOS também.
Existem outras novidades no macOS 10.15, como um novo aplicativo de Lembretes, a nova tela inicial do Safari e uma galeria de fotos renovada, que oculta automaticamente imagens duplicadas e destaca momentos importantes — mas essas são as principais.
O Catalina, como de costume, será uma atualização gratuita e será liberada para todos os usuários até o final do ano. Ela estará disponível em MacBooks, Macs mini, iMacs e Macs Pro lançados a partir de 2012.
Paulo Higa viajou para San Jose, California, a convite da Apple.
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