O código de modelo G910 não me deixa mentir: este celular poderia simplesmente se chamar G9 ThinQ, sendo apenas mais um sucessor da linha premium da LG. Mas a fabricante coreana decidiu renovar seus produtos: o Velvet, além de fornecer uma dose de oxigênio ao estrear uma marca, tenta reerguer um negócio que não dá lucro à empresa há quase seis anos.
Quase como um novo começo, o Velvet tem visual diferente dos modelos anteriores da linha G, segue o mercado ao trazer uma tela gigante de 6,8 polegadas e não deixa o hardware para trás. Nem o preço. Lançado por R$ 4.299, ele tem a missão de ser mais barato que os melhores do mercado, mas superior aos celulares intermediários. Será que compensa? Eu testei o Velvet nas últimas semanas e conto tudo neste review.
O Tecnoblog é um veículo jornalístico independente de tecnologia que ajuda as pessoas a tomarem sua próxima decisão de compra desde 2005. Nossas análises de produtos são opinativas e não possuem nenhuma intenção publicitária. Por isso, sempre destacamos de forma transparente os pontos positivos e negativos de cada produto.
Nenhuma empresa, fabricante ou loja pagou ao Tecnoblog para produzir este conteúdo. Nossos reviews não são revisados nem aprovados por agentes externos. O Velvet foi fornecido pela LG por empréstimo. O produto será devolvido à empresa após os testes.
O Velvet é um smartphone que inaugura uma linha de design na LG, tanto que a empresa foca bastante no aspecto visual nos materiais publicitários do aparelho. Analisando friamente, ele não tem nada de muito inovador, com notch em formato de gota na câmera frontal, tela com laterais curvadas e pintura perolada que já eram vistos na concorrência. Mas é fato que o celular ficou muito bonito e elegante, especialmente na cor branca.
As laterais curvadas tanto na frente quanto na traseira fazem parecer que o Velvet é ainda mais fino que 7,9 mm. O peso de 180 gramas também impressiona pela leveza, ainda mais considerando que estamos falando de um celular com tela enorme de 6,8 polegadas e uma bateria respeitável de 4.300 mAh. E a LG não economizou nos extras: os alto-falantes são estéreos, a entrada de fone de ouvido continua aqui e a carcaça tem proteção contra água.
A tela P-OLED do Velvet tem resolução Full HD+ e excelente qualidade de imagem, com brilho forte e o preto perfeito do painel orgânico. As cores me agradam no modo natural, com saturação equilibrada e uma temperatura tendendo para o frio, mas você pode fazer ajustes finos nas configurações para deixar tudo ao seu gosto. Sob o display, existe um leitor de impressões digitais óptico que foi rápido e preciso em quase todas as situações.
Como um bom celular premium, o Velvet possui corpo feito de metal e vidro que conta com certificação IP68 para proteção contra água e poeira. A LG também continua apostando na resistência militar, o que não torna o aparelho inquebrável, mas é uma segurança a mais para o usuário. Para os mais cautelosos, uma capa de proteção transparente acompanha o produto.
O Android 10 do Velvet roda uma interface personalizada da LG que evoluiu nos últimos anos, ganhando ícones simplificados, telas mais limpas e alguns poucos elementos translúcidos. Eu tenho más lembranças dos menus de configurações espalhados em múltiplas telas nos celulares da LG, e é bom ver que a empresa reorganizou tudo.
Por padrão, todos os aplicativos ficam concentrados nas telas iniciais, sem um menu dedicado a eles, mas você pode mudar esse comportamento nas configurações. O Velvet traz alguns softwares de utilidade questionável pré-instalados, como joguinhos e um serviço de reserva de hotéis; todos eles podem ser completamente desinstalados.
O gravador de som nativo é acima da média, oferecendo uma série de ajustes e codecs, incluindo a possibilidade de gravar em FLAC em 24 bits a 192 kHz; também existe um modo ASMR, para gravar sons mais suaves. Já o QuickMemo+ é o aplicativo de notas da LG, permitindo colorir ilustrações já existentes, fazer anotações em texto ou rabiscar com pincéis e canetas.
O software da LG poderia ganhar um fôlego com os acessórios vendidos à parte, como o Dual Screen, que adiciona uma segunda tela parecida com a do G8X ThinQ, ou a caneta Stylus Pen com ponta eletrostática, que transforma o Velvet em uma espécie de Galaxy Note mais em conta. Infelizmente, a LG decidiu não trazer esses itens no lançamento do Velvet no mercado brasileiro.
Talvez a principal marca de design do Velvet esteja nas câmeras traseiras com lentes dispostas no formato de “gotas de chuva”, nas palavras da LG. O conjunto óptico é triplo, composto por uma câmera principal de 48 megapixels, um sensor de profundidade de 5 megapixels para o efeito de desfoque de fundo e uma lente ultrawide com campo de visão de 120 graus.
A definição com a câmera de 48 megapixels é boa, mas o algoritmo da LG não lida tão bem com cenas de alto contraste e às vezes esconde as áreas de sombra, destacando o alcance dinâmico limitado do sensor, mesmo com HDR. Na lente ultrawide, notei uma aberração cromática lateral em algumas copas de árvores, que pode incomodar os mais detalhistas. Em condições favoráveis, no entanto, o Velvet apresenta resultados decentes, mais que suficientes para se sair bem no Instagram.
Com pouca luz, o modo de visão noturna do Velvet faz bem o trabalho de equilibrar a exposição e ressaltar a iluminação do cenário sem estourar as luzes ou exagerar nas cores, mas deixa um resquício de ruído na câmera principal, principalmente no céu. Quanto à lente ultrawide, é melhor simplesmente não usá-la se a iluminação não estiver boa, já que os ruídos e a falta de definição aparecem com força.
Já a câmera frontal de 16 megapixels é boa, sem impressionar na nitidez, mas capturando boas selfies, com cores bem ajustadas e um estilo que me lembrou vagamente os aparelhos da linha Google Pixel, com sombras bem marcadas ao redor do rosto e uma leve tendência à subexposição.
Particularmente, senti falta de um modo de gravação de vídeo manual, recurso bastante elogiado em alguns topos de linha anteriores da LG. E o modo de gravação ASMR, que a empresa tento destaca nos materiais de publicidade para gravar sons relaxantes e vozes sussurrantes, pode até ser legal, mas eu ficaria bem mais feliz com uma filmagem em 4K a 60 fps, que não está presente no Velvet.
Considerando as câmeras dos concorrentes da mesma faixa de preço, o Velvet sofre mais com ruído em ambientes com baixa iluminação e o alcance dinâmico não é dos melhores. Não chega a ser ruim, mas é um nível de qualidade que eu esperaria de um Moto G9 Plus ou Galaxy A71, que custam muito menos.
O Velvet foi lançado em duas versões principais no mundo: uma com Snapdragon 765 5G, outra com Snapdragon 845 4G. Para o mercado brasileiro, a LG decidiu focar no modelo com 4G, justificando que as redes móveis de quinta geração ainda são incipientes por aqui. Essa é provavelmente a proposta mais acertada, mas não é livre de controvérsias.
O Snapdragon 845 é um chip mais potente que o Snapdragon 765, mas é fabricado em uma litografia mais antiga, de 10 nanômetros, até por ter sido lançado em 2017. Com isso, ele tende a gastar mais bateria fazendo a mesma tarefa. Além disso, ao trazer esse processador em uma faixa de preço de R$ 4.299, a LG compete com o Galaxy S10 Lite (equipado com o Snapdragon 855, mais recente) e com topos de linha de gerações passadas que já estão mais baratos no varejo.
De qualquer forma, mesmo com um chip relativamente antigo e sem números impressionantes nos 6 GB de RAM e 128 GB de armazenamento, o Velvet se sai bem no desempenho. Boa parte dos jogos roda com os gráficos no máximo, embora eu tenha notado algumas travadinhas pontuais. No dia a dia, o aparelho se mostra bastante fluido, com animações suaves e aplicativos abrindo rapidamente.
A bateria de 4.300 mAh também aguenta o tranco. No meu teste padrão de quarentena, com três horas de reprodução de vídeo na Netflix, uma hora de navegação na web e 30 minutos de Asphalt 9, sempre no Wi-Fi e com brilho no máximo, a bateria foi de 100% para 47%, ficando no mesmo nível de topos de linha como o Galaxy Note 20 Ultra.
Gostei da presença do carregamento sem fio, um recurso que só costuma estar disponível no segmento ultrapremium. Só a recarga com fio poderia ser um pouquinho mais rápida: o adaptador de tomada do LG Velvet é de 15 watts e enche a bateria em 1h58min, enquanto fabricantes como Samsung e Motorola já andam incluindo modelos de 25 ou 30 watts na faixa intermediária.
O Velvet é um nome novíssimo, mas a estratégia de lançamento me lembra qualquer outro topo de linha antigo da LG. Ou seja, produto é premium, tem características atraentes, não possui nenhum ponto negativo grave, mas o preço sugerido de R$ 4.299 está exagerado. Eu não tenho como dizer que vale a pena comprá-lo por esse valor, com rivais como Galaxy S20+ e iPhone 11 na mesma faixa.
Mas, como costuma acontecer na LG, o preço no varejo tende a despencar em poucas semanas depois do lançamento, então eu sempre faço um exercício de adivinhar o cenário futuro. A qual preço valeria a pena comprar um Velvet? Talvez por metade do que a LG está cobrando na estreia.
Considerando só o produto, o concorrente direto do Velvet seria o Galaxy S10 Lite, encontrado por R$ 2,3 mil no momento em que eu fazia este review. Se os dois estivessem no mesmo preço, eu ainda escolheria o aparelho da Samsung para levar um processador melhor e câmeras levemente superiores, mesmo perdendo o carregamento sem fio e a proteção contra água.
Na Motorola, a opção mais próxima do Velvet seria o Motorola Edge, encontrado por cerca de R$ 3,3 mil. Ele traz uma tela melhor com taxa de atualização de 90 Hz e um conjunto de câmeras mais versátil, mas você paga caro demais só por causa do Snapdragon 765 5G. É por isso que a opção da LG de trazer o Velvet com Snapdragon 845 4G ao mercado brasileiro foi bastante acertada.
Longe de mim querer ditar o que os executivos da LG deveriam fazer no Brasil: a empresa tem méritos por ser a terceira maior fabricante há anos em um mercado tão grande. Mas, no final das contas, o Velvet é um celular que poderia mostrar a que veio e alavancar a marca, como a empresa tenta fazer em nível global. E acaba sendo só um nome novo com preço errado, como acontece todo ano desde o G5.
Nenhum comentário:
Postar um comentário