Ghost of Tsushima marca o retorno do estúdio Sucker Punch (série inFamous) ao PS4 para contar a saga de Jin Sakai, um samurai que precisou fazer escolhas difíceis sobre honra, tradição e sua própria identidade a fim de combater a invasão do exército mongol à ilha de Tsushima. Com gameplay em terceira pessoa, muita exploração e visual deslumbrante, o jogo chega dia 17 de julho e é exclusivo do PlayStation 4. O game tem opção de legendas em português do Brasil.
Antes de começar este review, gostaria de fazer alguns avisos: não há spoilers neste texto. Por esse motivo, não coloquei imagens do mapa do jogo – pois há muitas informações já desbloqueadas nele que poderiam estragar sua experiência. Evitei usar algumas imagens do menu também, por conter recursos que apenas serão vistos em partes mais avançadas da campanha.
Dito isto, vamos lá!
A história de Ghost of Tsushima, que se passa em forma de contos, usa como plano de fundo o período feudal do Japão, mais precisamente durante as invasões mongóis à Tsushima, entre 1274 e 1281. A ilha foi um importante centro comercial da época e, devido a sua localização privilegiada (entre a Coreia e o Japão) também era tida como um estratégico ponto militar.
Voltando para a ficção e à narrativa do jogo, você assume o controle do então samurai Jin Sakai, pertencente a um dos clãs mais tradicionais e influentes da região. Jin perdeu sua mãe ainda criança e pai quando era adolescente. Mas ao invés de ficar sozinho no mundo, ele foi acolhido e treinado por seu tio, o reconhecido e sempre fiel às tradições, samurai Shimura.
O primeiro grande momento de emoção do game acontece bem no início, ainda no prólogo, quando no controle de Sakai você luta, ao lado de outros samurais, contra a primeira incursão dos mongóis à Tsushima, pela praia. O que os guerreiros japoneses não esperavam é que eles seriam facilmente massacrados pelos invasores, deixando Jin Sakai aparentemente como único sobrevivente.
Renascido das cinzas após a derrota samurai, Jin precisará reavaliar muitos valores aprendidos na vida, pois irá perceber que seguir estritamente à tradição samurai não será suficiente para vencer o inimigo. Os mongóis aprenderam a língua e os costumes japoneses e sabem exatamente onde e como atacá-los.
Será uma jornada difícil para Sakai e ele terá que se aliar a companheiros até então improváveis, como a ladra Yuna (Sim, uma ladra. Mas não julgue o livro pela capa!), e forjar uma nova forma de luta para ter alguma chance de vitória, mesmo que para isso ele precise abandonar a vida de um samurai tradicional e agir pelas sombras, como um fantasma.
Colocando as cartas na mesa logo de cara: se em algum momento já jogou games como Assassin’s Creed (Origins ou Odyssey), The Witcher III, Far Cry (do terceiro em diante) e Nioh 2 – você terá um total de zero dificuldade em se adaptar ao gameplay de Ghost of Tsushima. Ao contrário do que alguns estavam se perguntando, este não é um “Souls-Like”. Inclusive, a referência a Nioh 2 é bem suave e basicamente se reflete no uso das “Stances” (Posturas) de luta.
O interessante é que também não notei intenção alguma da Sucker Punch em tentar “mascarar” essas referências. Algumas, inclusive, são idênticas aos dos jogos acima citados – mudando apenas o tema para o Japão feudal (obviamente).
Tratando-se de mecânica geral de jogo, nenhuma nova roda foi inventada. Tirando as partes que não posso dizer porque seriam spoilers do gameplay, a sensação é a de jogar um “Assassin’s-Witcher-FarCry-Nioh 2”, mas com brilho próprio. Isso me surpreendeu, positivamente, pois meu receio era que este título se tornasse mais um game genérico sandbox e colcha de retalhos (Sim. Eu estou falando de você, Days Gone).
Só para dar alguns exemplos: você vai assobiar para sumonar seu cavalo de outra dimensão (ele aparece do nada); vai se esconder na vegetação alta para não ser visto ao invadir locais dominados pelos mongóis (que quando liberados aumentam sua reputação e podem liberar a área para a população retornar e te oferecer seus serviços); usar uma espécie de “sentido aranha” para ver inimigos pelas paredes; usar técnicas de ataque furtivo idênticas de Assassin’s Creed (como dardos para causar loucura nos inimigos) e por aí vai.
A história da campanha principal – envolvente e com alguns plot-twists, algumas atividades extras para desbloquear seu inventário e dar boosts a Jin, além das missões secundárias dos seus companheiros (falarei mais disso adiante) são fundamentais para ajudar a manter esse gameplay, já extremamente conhecido, interessante do começo ao fim.
De novidade mesmo, vale destacar a opção de Jin Sakai poder encarar o melhor guerreiro de um grupo inimigo cara a cara, e na frente dos outros. Sim, duelos! Você pode duelar e, se acertar o golpe de espada no momento certo, matará o oponente num só golpe (se errar o timing é você que pode se dar muito mal). Isso vale tanto para quando for invadir Fortes ou mesmo quando encontrar grupos adversários pela estrada.
Com o nível de lenda mais alto, vencer um duelo pode até mesmo aterrorizar os inimigos remanescentes, que fugirão em desespero (use o arco longo e não deixe os miseráveis escaparem!).
A versatilidade de estilos de luta é um dos destaques deste game. Você terá à disposição três grandes árvores de habilidades para investir pontos de lenda, que se consegue ao completar missões e/ou dezenas de atividades por Tsushima – como encontrar templos (sempre em locais de difícil acesso. Facilitar a vida, para que?), tocas de raposa, estandes de bambu e etc.
As skills trees são: Samurai, Stances (Posturas) e Ghost. Cada uma delas se ramificam em mais opções. Em Stances, por exemplo, é possível desbloquear golpes mais devastadores de acordo com o seu posicionamento em batalha, ou seja, sua Postura.
Essas Posturas funcionam de forma parecida como em Nioh 2. Para inimigos apenas com espadas e mais rápidos, você usa a Stone Stance; para adversários com escudo, a Water Stance; Brutos, a Moon Stance e, finalmente, para quem te atacar com lanças há a Wind Stance.
Vale destacar que, quando falo de inimigos, não estou me referindo apenas aos mongóis. Há muitos bandidos espalhados pela ilha se aproveitando da situação caótica também.
É importante você aprender a se posicionar em situação de luta e o próprio jogo te avisará, algumas vezes, quando estiver insistindo em usar uma única Postura para tudo. Pode até parecer, mas Ghost of Tsushima não é um esmaga botões com ações automáticas.
Faça um parrying no tempo certo para quebrar a guarda do inimigo, desvie de golpes indefensáveis para se posicionar de forma a flanquear o oponente, troque rápido entre as Posturas (quando cercado por vários adversários) para engatar combos e não esqueça dos seus itens de Ghost para conseguir certa vantagem (como arremessar kunais, usar bombas de fumaça ou até incendiar sua katana).
Além dos ataques corpo a corpo, Jin Sakai também poderá usar um arco curto e um arco longo em batalha. Cada um tem suas próprias vantagens e estratégias. O arco longo te dá a chance de usar flechas que perfuram armaduras e tem maior alcance, mas você precisa estar de pé para usá-lo e, por isso, é mais facilmente avistado. O arco curto tem flechas incendiárias e pode ser usado em stealth, mas tem alcance menor.
Não há muita variedade de armaduras, apesar de haver bastante opções de chapéus, máscaras e bandanas, e elas não caem como loot dos inimigos. Você precisa conquistá-las ao longo de missões. A parte boa é que, após muito grinding coletando centenas de matérias-prima pelo mapa, você pode fazer upgrades dessas vestimentas (assim como melhorar suas katanas, arcos e bolsas para guardar itens arremessáveis).
Cada armadura traz boosts próprios, como aumento de saúde, ou aprimoram suas habilidades de Ghost, ou te dão vantagem ao usar ataques à distância e etc. Ao forjar melhorias (tem sempre um ferreiro em alguma vila ou templo que tenha sido libertado), essas skills próprias de cada equipamento melhoram também.
Você pode equipar talismãs também (há várias formas de consegui-los) para ter ainda mais boosts e personalizar seu estilo de personagem. Falando em customização, é possível trocar flores (um dos grindings que precisará fazer) para comprar cores e estilos diferentes para sua katana, arcos e armaduras. Alguns desses estilos também podem ser desbloqueados ao completar missões.
Em se tratando de um jogo de mundo aberto é mais do que natural e esperado que existam dezenas de missões, além das principais. Essa parte me lembrou bastante The Witcher III por alguns aspectos.
Há missões aleatórias, que você consegue ao conversar com moradores locais (que te passam algum rumor a ser investigado), pessoas gritando por sua ajuda no meio de alguma outra missão (você tem a opção de ajudar ou não), missões que sobreviventes te passam após serem salvos, missões para desbloquear skills e itens místicos, além das quests dos seus companheiros (que são as que mais valem a pena, em quesito qualidade de narrativa).
Não vou entrar em detalhes sobre essas missões dos companheiros de Jin, porque até o encontro com cada um desses personagens é interessante por si só e você precisa experimentar isso sozinho. O que posso adiantar é que são histórias de superação, traição, dor, emotivas e vão moldar seu astral para enfrentar os últimos momentos da campanha principal. Minha dica é: complete-as antes dos acontecimentos finais da main quest.
Todas essas missões e pontos de interesse ficam marcados no seu mapa. Cada missão ou atividade resolvida torna este local um ponto de viagem rápida – o que é maravilhoso, porque chegará um momento em que você poderá cortar de um lado a outro da ilha num piscar de olhos. Piscar mesmo, já que os loadings são até bem rápidos para um jogo com quantos elementos visuais para carregar.
São tantas as oportunidades de coletar itens para fazer upgrades que, antes da metade da história principal, eu já me sentia overpower. Fechar as últimas batalhas da main quest foram até relativamente tranquilas por conta disso. Grinding é amor!
Ah, o jogo não termina só porque você fechou a main quest. Após assistir os créditos, é possível continuar explorando a ilha de Tsushima. Afinal, ainda há muitos inimigos para combater (e loot para catar).
Ghost of Tsushima é um daqueles jogos que presenteia os que amam explorar. Há atividades extras espalhadas pela ilha que rendem prêmios interessantes. Por exemplo, por várias vezes um pássaro dourado voará insistentemente a sua volta (às vezes até irrita). Vá até onde ele te levar para descobrir locais secretos, personagens com missões importantes, fontes de água quente para desbloquear mais saúde, itens vestíveis (chapéus, bandanas e máscaras) e etc.
Você também pode buscar por tocas de raposas, que além de serem as coisinhas mais fofas de todo o universo, te guiam até estátuas para que Sakai possa rezar e desbloquear mais slots para talismãs.
Há também estandes de bambus para cortar apertando uma rápida sequência de botões e, com o tempo, acumular mais “Resolve” – energia que será usada tanto para recuperar saúde quanto para alimentar golpes poderosos.
Quando assisti o gameplay de Ghost of Tsushima direto da E3 2018 fiquei impressionada, mas pensei: “isso foi projetado para parecer lindo na apresentação. A realidade vai ser outra”.
Paguei pela minha língua, pois o game é visualmente incrível – desde a escolha das tomadas e dos ângulos para as cenas mais importantes ou dramáticas, aos detalhes das folhagens, trocas de clima e vegetação, luz e sombras, panorâmicas… Enfim, o game te transporta para uma experiência de quase uma grande produção do cinema japonês.
Falando em cinema japonês, destaque para o Kurosawa Mode, que ativa um filtro preto e branco para o jogo e menus, além de adaptar todos os elementos do título a essa estética. Essa é uma homenagem da Sucker Punch ao lendário diretor japonês Akira Kurosawa. Inclusive, toda a sonorização do ambiente dá a impressão de se estar escutando um filme antigo, com direito a chiados por conta do vento e áudio geral um pouco mais abafado.
A música tradicional japonesa, que embala a trilha sonora, é tão rica e abundante que foram necessários dois compositores para o game: Ilan Eshkeri e Shigeru “Ume” Umebayashi.
Tudo lindo, porém… Sim, bugs. Encontrei alguns. Nada que comprometesse o gameplay, que desse algum tipo de crash nas missões ou me fizesse reiniciar o jogo, mas precisam ser mencionados. Por algumas vezes vi NPCs andando contra paredes, ou mesmo caindo no espaço (tentando andar, mas tropeçando numa pedra invisível constantemente).
Controlando Jin, fiquei presa umas duas vezes entre duas pedras, mas conseguir sair me sacudindo um pouco. Novamente, há sempre a esperança do patch de lançamento para corrigir essas coisas.
Ghost of Tsushima talvez seja o último grande exclusivo do PS4 e, se mesmo for, fechará a “linhagem da casa” com honras ao mérito. Tinha tudo para ser mais um sandbox genérico com roupagem oriental, mas entrega um game muito divertido, com personagens cativantes, visual cinematográfico e trilha sonora que te faz viajar de volta para o Japão feudal.
Apesar de pouco inovar em relação às mecânicas de gameplay, o título conseguiu extrair e adaptar os pontos altos de cada jogo que usou como inspiração. Aos 45 minutos do segundo tempo, a Sucker Punch provou que também sabe fazer grandes produções e se põe no patamar de estúdios já consagrados do gênero de mundo aberto.
PS: todas as imagens deste review (exceto a de abertura, a do estande de bambus e as duas que mostram o menu) foram feitas usando o Modo Fotografia.
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