Lançado oficialmente no Brasil graças a uma parceria entre Xiaomi e DL Eletrônicos, o Poco X3 NFC chega com uma proposta incomum em nosso mercado: a de ser um smartphone gamer de categoria intermediária premium. Encontramos uma tela de 120 Hz aqui, por exemplo. Em contrapartida, o processador é o Snapdragon 732G.
A ficha técnica do celular inclui 6 GB de RAM, quatro câmeras na traseira — a principal com 64 megapixels —, bateria de 5.160 mAh e Android 10 com interface MIUI 12. Só que o preço sugerido começa em R$ 3.000. Vale a pena pagar tudo isso pelo Poco X3? É o que você vai descobrir neste review.
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Nenhuma empresa, fabricante ou loja pagou ao Tecnoblog para produzir este conteúdo. Nossos reviews não são revisados nem aprovados por agentes externos. O Poco X3 NFC foi fornecido pela DL por empréstimo. O produto será devolvido à empresa após os testes.
A Xiaomi desenvolveu o Poco X3 para ser diferentão em vários aspectos. Começa pelo visual. Na traseira, a marca ‘Poco’ aparece em letras garrafais. Achei que eu iria estranhar esse detalhe, mas a verdade é que gostei do brilho metálico que o logotipo assume quando o aparelho é observado de ângulos diferentes.
Também curti a cor. A unidade enviada ao Tecnoblog tem um cinza metálico (Shadow Gray) que pende levemente para o azul e uma faixa listrada no centro que causa boa impressão. No topo dessa faixa está o módulo que reúne as câmeras. Trata-se de um “alívio” para quem já não aguenta mais encontrar smartphones com câmeras alinhadas à esquerda.
O acabamento não é dos mais avançados, porém. Enquanto as laterais são de alumínio, a traseira é de um plástico que não parece ser muito resistente. A boa notícia é que o Poco X3 vem com uma capa de silicone que envolve tão bem o smartphone que acaba sendo dificil retirá-la.
Os controles de volume e o botão de liga / desliga ficam no lado direito. Esse botão tem um sensor de impressões digitais dos bons: o desbloqueio é rápido e quase sempre funciona na primeira tentativa. Já a gaveta de chips, híbrida (dois SIM cards ou um SIM card mais microSD), fica sozinha lá no lado esquerdo.
Na parte superior, nos deparamos com alguns furinhos para microfone e infravermelho. Esse detalhe remete a uma das características notáveis do Poco X3: o aparelho não fica devendo em nada no quesito conectividade. NFC (como denuncia o nome oficial) e rádio FM, por exemplo, estão incluídos no pacote.
Um detalhe que também é digno de nota diz respeito ao acabamento: o Xiaomi Poco X3 tem certificação IP53, isto é, garante certa proteção contra poeira e respingos d’água.
Além da conexão para fones de ouvido (que não acompanham o Poco X3) e da porta USB-C, a parte inferior do celular traz uma saída de áudio que trabalha em conjunto com o alto-falante no topo do aparelho para oferecer som estéreo.
Apesar disso, eu não diria que o Poco X3 oferece uma experiência sonora impressionante. O áudio tem volume máximo alto e é claro, mas, dependendo do que estiver sendo reproduzido, o som pode parecer abafado ou soar excessivamente estridente.
A tela é um dos recursos mais chamativos do Poco X3. Olha só o que ela oferece: tamanho de 6,67 polegadas, resolução de 2400×1080 pixels, HDR10, formato 20:9, taxa de atualização de 120 Hz e taxa de amostragem de toque de 240 Hz.
Basicamente, a taxa de 120 Hz indica que a tela é atualizada 120 vezes por segundo. Na prática, isso significa que você poderá notar animações ou movimentos em imagens de modo mais fluído. Isso tende a deixar a experiência com jogos mais interessante, especialmente naqueles que têm cenas rápidas.
Em games como Real Racing 3, por exemplo, dá para perceber a diferença, embora você tenha que prestar bastante atenção para isso. Os 120 Hz deixam a movimentação mais natural, digamos assim, do que se a taxa estivesse em 60 Hz (o padrão dos smartphones).
Já a taxa de amostragem de toque indica o número de vezes por segundo que o dispositivo é capaz de detectar um toque na tela. Isso se traduz em respostas mais rápidas a comandos. Não notei diferença em nenhum dos jogos testados, para ser honesto, mas esse atributo pode ajudar o usuário em games que exigem muitos toques na tela.
O brilho máximo da tela é bem forte e as cores são exibidas com vivacidade. Mas, como este é um painel LCD, o preto não é profundo e você pode notar perda de tonalidades ao olhar para a tela sob ângulos variados. Se o painel fosse OLED, essa seria uma tela matadora.
Pelo menos é possível configurá-la de várias formas. O “Modo de leitura”, por exemplo, deixa a tela com um tom mais quente para permitir que você leia textos longos com mais conforto.
O Poco X3 vem com o Android 10 e a interface MIUI 12. Por um lado, gostei dos elementos visuais. O menu de configurações é bem organizado, a área de notificações exibe uma barra em vez de uma linha no ajuste de brilho e a lista de aplicativos abertos é organizada em duas colunas, por exemplo.
Me incomodou um pouco o fato de, por padrão, a interface não adicionar atalhos para aplicativos recém-instalados nas telas iniciais, embora você possa mudar isso. Por outro lado, a MIUI organiza automaticamente os app em categorias como comunicação, entretenimento e fotografia. Isso é legal.
Os recursos de personalização também são legais. Você pode mudar o papel de parede ou obter temas facilmente por meio de apps nativos próprios para esse fim. Muitos desses temas são “premium”, no entanto. Para acessá-los, você precisar assistir a vídeos publicitários (!!!).
A gente também se depara aqui com um bom conjunto de apps próprios da Xiaomi, incluindo ferramenta para notas, gravador de áudio, digitalizador de documentos (com OCR) e o Mi Remote (para usar o celular como controle remoto).
Só que os bloatwares (jogos e aplicativos como AliExpress) pré-instalados tiram pontos, bem com os aplicativos Segurança e Limpeza: eles trazem ferramentas de manutenção que podem ser úteis, mas exibem notificações em excesso.
De modo geral, a MIUI 12 é prática e versátil. Ela só precisava ser menos poluída.
O Poco X3 foge do padrão em vários parâmetros, mas abraça a tendência das quatro câmeras na traseira. A principal, no canto direito superior, tem sensor Sony IMX 682 de 64 megapixels. No centro, a Xiaomi posicionou uma grande angular de 119 graus e 13 megapixels. As duas câmeras inferiores têm 2 megapixels cada e servem para macro (esquerda) e profundidade (direita).
A câmera principal é, de longe, a melhor. Quando as condições de iluminação ajudam, ela registra imagens com ótima definição, cores vívidas, mas não excessivamente saturadas, e controle decente de ruído.
Um detalhe interessante é que a câmera principal também pode ser usada para aplicar zoom digital de 2x. Como o sensor tem 64 megapixels, o aplicativo executa uma espécie de recorte da parte central da imagem para gerar o efeito de aproximação. O resultado é agradável na maioria das vezes.
A grande angular perde em definição. O aplicativo de câmera tem uma função (que pode ser desabilitada) que corrige distorções relacionadas ao ângulo. Isso pode explicar, pelo menos em parte, o fato de a perda de detalhes ser mais visível nas bordas da imagem. De todo modo, os resultados costumam ser decentes se as condições de luz ajudarem.
À noite, não espere milagres. Existe um modo noturno que é de grande ajuda em condições de baixa iluminação, mesmo assim, a definição cai bastante em função do pós-processamento para controle de ruído.
Da câmera de macro eu não gostei muito. A focagem é rápida e a coloração é intensa, mas a definição é muito baixa. Se o sensor tivesse pelo menos 5 megapixels, os resultados seriam mais interessantes aqui.
Já a câmera de profundidade trabalha bem. Ela ajuda a câmera principal a registrar fotos com fundo desfocado de modo rápido e preciso, como tem que ser.
Eu não poderia deixar a câmera frontal de lado, até porque ela é uma grata surpresa. Com sensor de 20 megapixels, o componente gera selfies com ótima definição em primeiro plano e faz um bom trabalho de desfoque no modo retrato.
O chip Snapdragon 732G que comanda o Poco X3 é, nas palavras da própria Qualcomm, otimizado para jogos. De fato, o smartphone rodou com desenvoltura todos os títulos testados para este review, como Real Racing 3, Asphalt 9: Legends e Breakneck.
Mas isso com as configurações gráficas em médio ou automático. Se você é do tipo que configura os gráficos para o nível máximo, vai notar queda na taxa de frames com alguma facilidade. O Snapdragon 732G se esforça, mas não é um processador topo de linha.
No uso cotidiano, o conjunto de hardware, que inclui 6 GB e 64 GB de armazenamento, se comporta bem. Mas, se você tiver muitos aplicativos abertos, poderá notar uma eventual demora na resposta ou alternância entre eles. Felizmente, esse é um problema pouco frequente. De modo geral, o Poco X3 apresenta desempenho bastante satisfatório.
Neste ponto, vale a pena destacar o LiquidCool Plus, sistema de resfriamento baseado em um tubo de cobre combinado com camadas múltiplas de grafite que foi posicionado logo abaixo da traseira do Poco X3. Parece que o mecanismo cumpre mesmo o seu dever: durante os jogos, notei algum aquecimento no aparelho, mas discreto.
Com seus 5.160 mAh, a bateria dá um show. Para testar o componente, rodei duas horas de vídeo no Prime Video com brilho máximo na tela, joguei Real Racing 3, Asphalt 9: Legends e Breakneck por cerca de 15 minutos cada, usei navegador e redes por uma hora, ouvi Spotify via alto-falantes também por uma hora e finalizei com uma chamada de 10 minutos.
Comecei o teste pela manhã. Por volta das 22:00, o aparelho ainda tinha 48% de carga. Muito bom! Isso com a tela funcionamento em 120 Hz, modo que gasta mais energia. Então, no dia seguinte, repeti os testes com a tela em 60 Hz. O resultado? 62% de carga.
Para completar, o Poco X3 vem com carregador de 33 W. Com ele, o tempo de recarga de 12% para 100% foi de 1h10min, ótimo tempo para uma bateria com mais de 5.000 mAh.
Testar o Poco X3 foi uma experiência deveras interessante. É visível os esforços da Xiaomi para fazer deste um intermediário cheio de recursos e, principalmente, abraçar a “causa gamer”.
A tela, generosa no tamanho e com frequência de 120 Hz, é um dos pontos fortes — seria ainda mais se o painel fosse OLED, mas tudo bem. O design peculiar deve dividir opiniões, mas suspeito que a maioria dos usuários ficará satisfeita com o visual do aparelho ao tê-lo em mãos.
O software poderia ser um pouco mais enxuto, mas não deixa de ser bem organizado e trazer funcionalidades úteis. A bateria dá conta do recado sem reclamar e a recarga é rápida de verdade. Já o desempenho geral deixa claro que este não é um celular topo de linha. Mesmo assim, o Snapdragon 732G faz o seu trabalho com dignidade.
Mas existe um problema grave: o preço. O Poco X3 foi desenvolvido originalmente para combinar ampla gama de recursos com custo-benefício. Só que, no Brasil, essa relação se perde, em parte por conta desse cenário de dólar nas alturas.
A versão testada aqui, de 64 GB de armazenamento, tem preço sugerido de R$ 3.000. Já a versão de 128 GB sai por R$ 3.300. São valores altos. Se é para desembolsar mais de R$ 2.000, é mais negócio correr para o Samsung Galaxy S10 Lite, por exemplo, que não tem tela de 120 Hz ou sistema de resfriamento, mas vem com o Snapdragon 855 e custa menos.
Se não por possível encontrar o Poco X3 lançado por aqui com um bom desconto, o modelo só valerá a pena para quem é entusiasta da Xiaomi ou não se importa em pagar um pouco mais para ter uma experiência Android diferente da que é oferecida por outras marcas no Brasil.
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