O 5G ainda nem começou a engatinhar no Brasil e já está chegando a faixas de preço menos salgadas. O Moto G 5G Plus não é um Moto G raiz, que possa ser considerado bom e barato, mas oferece uma tecnologia nova que até então estava presente apenas em celulares com valores de lançamento acima dos R$ 5 mil no Brasil.
Além da turbinada na conectividade, ele também ganhou um hardware mais poderoso. O modelo vendido no Brasil é cheio de números gigantes, sendo equipado com 8 GB de memória, tela de 6,7 polegadas e um total de seis câmeras: tem mais lente do que “G”. Será que vale a pena comprar o primeiro Moto G com 5G? Eu testei a novidade da Motorola nas últimas semanas e conto tudo nos próximos minutos.
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Nenhuma empresa, fabricante ou loja pagou ao Tecnoblog para produzir este conteúdo. Nossos reviews não são revisados nem aprovados por agentes externos. O Moto G 5G Plus foi fornecido pela Motorola por empréstimo. O produto será devolvido à empresa após os testes.
O Moto G 5G Plus é um celular bem alto, graças à tela de 6,7 polegadas com proporção 21:9. O design chama mais atenção não devido ao formato esticado, mas pelas escolhas pouco usuais da Motorola: o celular tem dois furos para as câmeras de selfie (parece um minion); um leitor de impressões digitais na lateral, o que me agrada pela facilidade de acesso; e um quadradinho com quatro câmeras bem concentradas na traseira.
O celular não é construído com nenhum material de outro mundo e nem traz certificação IP contra água e poeira, mas satisfaz visualmente pelo tom de azul escuro, que brilha com vontade na traseira, o que também é um prato cheio para marcas de dedo. Como de costume, a Motorola envia uma capa transparente simples para proteger o smartphone e ao mesmo manter a cor diferenciada à vista.
A tela com resolução Full HD+ e aspecto de cinema tem excelente qualidade, com brilho forte, ótimo ângulo de visão e um contraste convincente, dentro do que é possível atingir com um painel LCD. Por padrão, as cores são mais saturadas, mas é possível ajustar a intensidade dos tons nas configurações do sistema.
Pela primeira vez em um Moto G, a taxa de atualização é de até 90 Hz, o que cria uma bela sensação de fluidez nas animações do sistema e em jogos com alta taxa de quadros, algo nem sempre possível ser atingido por motivos que comento adiante. A Motorola incluiu um modo automático de tela, que alterna entre 60 e 90 Hz dependendo do conteúdo exibido, o que ajuda a economizar bateria.
O software da Motorola costuma ser consistente entre gerações, acrescentando poucos recursos em versões novas e sem ganhar tantas alterações visuais. Mas o Moto G 5G tem um detalhe diferente: ele está sendo lançado em parceria com a Claro, que detém um acordo de exclusividade. Mesmo os modelos comercializados em lojas e quiosques da Motorola rodam um Android personalizado pela operadora, o que me fez relembrar os tempos sombrios da plataforma.
A personalização da Claro não chega a ser horrível, mas é incômodo ligar o celular pela primeira vez e notar, além do aplicativo da operadora pré-instalado, uma série de ícones de lojas de roupas, reserva de hotéis, joguinhos e até uma carteira de bitcoins. Até a página inicial do Chrome é alterada de fábrica. É difícil aceitar bloatware em troca de desconto, mas receber propaganda, mesmo comprando o aparelho desbloqueado e sem vínculo com operadora, é ainda pior.
Minha outra crítica está na política de atualizações da Motorola, um ponto forte que a empresa tinha no passado e perdeu ao longo dos anos. O Moto G 5G Plus roda Android 10 de fábrica e tem garantia de uma única atualização, para o Android 11, que foi lançado antes mesmo do celular. O Samsung Galaxy A51, um modelo mais acessível da concorrência, tem três anos de garantia de atualizações, então é difícil aceitar que a Motorola não possa fazer o mesmo.
Pior é pensar que, quando você finalmente conseguir usar o 5G do Moto G 5G Plus, vai ficar com vontade de comprar outro aparelho, porque a Motorola decidiu não liberar mais atualizações de Android.
O Moto G 5G Plus tem mais câmeras do que G, sendo que quatro delas estão na traseira. A linha superior reúne uma câmera ultrawide de 8 megapixels e uma lente macro para capturar objetos mais próximos. Na linha inferior, temos o sensor principal de 48 megapixels e uma câmera de profundidade para o efeito de desfoque de fundo.
A câmera principal de 48 megapixels é semelhante às que equipam outros aparelhos recentes da Motorola, com um sensor que junta quatro pixels em um para criar uma foto de 12 megapixels com maior definição. Os resultados são bons, com ruído controlado, boa nitidez e cores tendendo ao natural. O alcance dinâmico melhorou ao longo das gerações e também agrada, mantendo uma exposição equilibrada sem estourar ou esconder pontos de iluminação ou de sombra na maioria das situações.
Em fotos com pouca iluminação, o resultado tende a ser desastroso, mas o modo de visão noturna ajuda a tirar fotos com exposição controlada. Eu continuo com as mesmas críticas de aparelhos anteriores da Motorola: o algoritmo de imagem exagera no sharpening, forçando uma nitidez que não é capturada pelo sensor e criando bordas duras em torno de objetos. Como as texturas não são bem registradas, as fotos noturnas tendem a ser muito artificiais; a Motorola poderia fazer ajustes finos para melhorar o aspecto das imagens.
Na câmera ultrawide, nenhuma grande surpresa. O sensor é obviamente inferior ao principal, com alcance dinâmico mais restrito e com limitações na captura de luz, até porque a abertura da lente é menor. Quando o ambiente está bem iluminado, o conjunto óptico consegue fazer um trabalho sólido, embora eu sinta um pouco de falta de definição. À noite, a qualidade é ruim e não há muito o que fazer, até porque o recurso Night Vision não pode ser usado com essa câmera.
E a lente macro é apenas ok, não impressionando nem em distância focal, nem em definição dos objetos capturados, além de criar aberrações cromáticas gritantes em alguns casos. Eu fico na dúvida se esse tipo de lente realmente faz sentido em um celular para pessoas normais: para mim, seria mais útil incluir uma teleobjetiva com zoom óptico para enquadrar objetos mais distantes, ou então retirar a câmera macro para diminuir o preço do produto final.
Nas câmeras frontais (que estranho falar isso no plural), as selfies aparecem com boa qualidade. A Motorola exagera um pouco na nitidez das fotos no sensor principal, um contraste em relação a marcas que deixam um filtro de embelezamento ativado por padrão. A câmera ultrawide tem campo de visão acima da média, com 118 graus, podendo ser útil nas selfies em grupo ou para destacar o plano de fundo (e só nesses casos, porque a lente apresenta forte distorção quando o rosto estiver próximo).
São câmeras boas para um intermediário premium, mas que ficam atrás de topos de linha da geração passada, principalmente na câmera ultrawide traseira e no pós-processamento, que precisa de melhorias para ficar à altura da concorrência.
O Snapdragon 765 é um bom processador, mas não é um topo de linha. A falta de fôlego no chip gráfico Adreno 620 fica clara em jogos como Asphalt 9 com os gráficos no máximo, que apresenta uma queda notável na taxa de quadros. Você precisa reduzir a qualidade visual para chegar perto de uma fluidez aceitável, o que é irônico para um celular que tem a taxa de atualização de 90 Hz como um chamariz.
Claro que, no dia a dia, o hardware é suficiente para executar tudo com um pé nas costas, sem engasgos ou travadinhas. Os 8 GB de RAM também colaboram com o desempenho multitarefa, permitindo alternar rapidamente entre aplicativos. É tanta memória que existe um recurso escondido chamado “Desempenho adaptável”, que deixa aplicativos pré-carregados na RAM para agilizar as próximas inicializações.
A bateria de 5.000 mAh tem boa duração e abastece rapidamente graças ao carregador de 20 watts, mas talvez não aguente os dois dias prometidos pela Motorola. Para algumas pessoas, a autonomia pode ser afetada devido à tela LCD brilhante de 6,7 polegadas, que tende a consumir mais energia quando usada de verdade.
No meu teste padrão de quarentena, com três horas de reprodução na Netflix, uma hora de navegação na web e meia hora de Asphalt 9, sempre no Wi-Fi, brilho no máximo e taxa de atualização no modo automático, o Moto G 5G Plus passou de 100% para 39%. É um resultado inferior ao do Motorola Edge+, que tem a mesma capacidade de bateria e um processador mais potente, mas tela OLED.
O grande chamariz do Moto G 5G Plus é, obviamente, o 5G. Mas a nova tecnologia ainda é incipiente no momento em que este review foi produzido, em outubro de 2020. Eu até consegui experimentar o 5G, mas parecia que eu estava caçando Pokémon pela cidade. A Claro possui cobertura restrita a pequenas áreas de bairros nobres da capital paulista e, mesmo nessas regiões, a experiência ainda não é nada de outro mundo.
Na região da Avenida Paulista, consegui taxas de download entre 120 e 140 Mb/s no 5G, enquanto o upload atingiu uma média de 70 Mb/s. São ótimas velocidades, mas eu já conseguia o mesmo nível de qualidade no 4G da Claro, tanto que, depois de desligar o 5G e refazer os testes no mesmo local, as taxas foram similares. No Parque Ibirapuera, a tecnologia se mostrou mais decepcionante: 34 Mb/s de download e 17 Mb/s de upload.
Eu passei pela implantação do 4G no Brasil há quase uma década e, se o roteiro for parecido, poucas pessoas devem se beneficiar do 5G durante a vida útil do Moto G 5G Plus: até que o 5G se torne uma vantagem real, é provável que você tenha trocado de aparelho. Especialmente porque, na fase inicial, o 5G faz mais sentido em lugares fechados com aglomeração de pessoas, como estádios e shoppings, algo impensável em uma pandemia.
Ou seja, me parece mais um movimento de firmar a marca Moto G como pioneira, trazendo uma tecnologia de ponta em uma linha antes considerada popular, do que uma tentativa de oferecer um benefício verdadeiro aos consumidores. Eu repito o que disse no review do Motorola Edge+ e reforço esse ponto em um aparelho mais acessível: compre o Moto G 5G Plus por outras qualidades, não para ficar “preparado” para o 5G.
O Moto G 5G Plus vale a pena não por causa do 5G, mas pelo conjunto. A Motorola escorregou em alguns pontos, como o Android com uma única atualização garantida e aplicativos inúteis de um parceiro comercial instalados de fábrica, mas o produto pode ser adequado para um público que procura um smartphone dessa faixa de preço.
A tela poderia ser OLED, mas tem qualidade satisfatória. As muitas câmeras fazem um trabalho convincente, a bateria deve ser suficiente para a maioria das pessoas e os vários gigabytes de RAM garantem uma vida útil maior. É uma experiência superior à oferecida pela maioria dos celulares intermediários, mas sem custar muito mais do que eles. E o 5G, apesar de eu não acreditar que seja um fator importante de compra em um futuro próximo nessa categoria, é um extra que pode ser interessante.
É verdade que o preço de lançamento de R$ 2.999 é altíssimo, mas é menor que eu esperava, considerando as condições atuais do mercado: basta lembrar que o Motorola Edge, com o mesmo processador, foi lançado por R$ 5.499. Isso porque o custo do 5G, que ainda é muito alto, está embutido nesses preços. Para quem não se importa com o 5G (e eu recomendo não se importar com isso por um tempo), o Galaxy S10 Lite é uma boa alternativa, com hardware mais potente e tela superior.
O lançamento da Motorola se posiciona imediatamente acima do Moto G9 Plus, que tem processador inferior e metade da RAM. Duzentos ou trezentos reais a mais é um preço que eu pagaria para ter os upgrades bem-vindos do Moto G 5G Plus. E, com as possíveis promoções e reduções de preço no futuro, ele pode entrar no bolso de muita gente.
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