quinta-feira, 30 de julho de 2020

Review Samsung Galaxy Z Flip: dobrável sem ser bizarro [análise/vídeo] | Tecnoblog

O Galaxy Z Flip foi lançado com uma missão não declarada: limpar a imagem da Samsung do desastroso lançamento do Galaxy Fold, primeiro celular dobrável da marca. À primeira vista, ele consegue: com tela que dobra na horizontal e hardware parrudo (Snapdragon 855+ com 8 GB de RAM), o modelo transmite sensação de produto bem-acabado, não de algo tirado do forno antes da hora.

Mas, hei, esse é um celular com preço oficial de R$ 8.999! Boa impressão inicial não basta, portanto. A gente precisa saber como o Galaxy Z Flip se comporta no dia a dia. Quanto tempo dura a bateria, por exemplo? As câmeras são boas? E como é usar uma tela dobrável?

Eu passei 15 dias usando o dobrável da Samsung como meu celular principal. Conto, a seguir, tudo sobre este que é um dos smartphones mais peculiares que já passaram aqui pelo Tecnoblog.

Vamos começar analisando o Galaxy Z Flip do jeito como ele vem dentro da embalagem: totalmente aberto. Nesse formato, ele exibe uma generosa tela Dynamic AMOLED de 6,7 polegadas com cantos arredondados, formato esticadão de 21,9:9 e notch circular centralizado no topo da tela (Infinity-O).

Ao tirar o aparelho da caixa, você vai dobrá-lo logo de cara e dizer algo como “não é que o danado dobra mesmo?”. Em seguida, você vai deixá-lo aberto novamente. Atenção a esse momento: é quando você vai perceber que a área de dobra tem um vinco, ou seja, é ligeiramente afundada.

Samsung Galaxy Z Flip - vinco na tela

A vontade de soltar nas redes sociais o meme do Pica-Pau dizendo ”fui tapeado” vai passar. Vai passar porque você logo perceberá que esse discreto afundamento não atrapalha a experiência de uso. Quando você assiste a um vídeo em tela cheia ou rola uma página web, por exemplo, nem nota esse detalhe.

Samsung Galaxy Z Flip - tela aberta

Na verdade, a experiência de uso da tela é muito positiva. A resolução de 2636×1080 pixels (full HD+) garante ótimo nível de detalhamento, como tem que ser, e as cores são vívidas, com direito a preto profundo.

Eu só tive impressão de que o brilho máximo não é tão intenso quanto em outras telas AMOLED da Samsung. Talvez isso seja um efeito da película que recobre o display. De todo modo, se você quiser usar o aparelho enquanto sintetiza vitamina D, vai na fé: o brilho é forte o suficiente para permitir a visualização da tela sob luz solar.

A lateral direita abriga os controles de volume e o botão liga / desliga integrado ao leitor de impressões digitais

Sim, o smartphone vem com um película colocada de fábrica e que não deve ser retirada (até porque não é fácil fazer isso). Curiosamente, esse componente causa a impressão de que o display é de plástico. Mas não é: o Galaxy Z Flip tem tela de vidro. Um vidro fino o suficiente para ser dobrado.

Esse painel transmite alguma sensação de fragilidade, mas só nos primeiros contatos. Dizem, porém, que ele pode ser riscado facilmente. Aliás, as tampas traseiras também parecem ser suscetíveis a riscos por serem feitas de vidro.

Samsung Galaxy Z Flip - capinhas

O efeito é bonito, mas, em nome da robustez, eu acho que a traseira deveria ser de metal, a exemplo das laterais, que são de alumínio. Felizmente, o celular vem com um kit de capinhas rígidas. Usá-las é mandatório.

Aquela euforia do primeiro contato com o smartphone logo foi substituída por um momento de reflexão: o que eu estou fazendo da minha vida? Digo, o que eu vou fazer com uma tela que dobra?

Olha, você pode deixar o Galaxy Z Flip “sentado” para assistir a um vídeo na parte superior da tela. Ou, então, deixar a tela apenas parcialmente dobrada para manter o celular apoiado na mesa em posição horizontal enquanto você assiste a um vídeo em tela inteira (é estranho, mas quebra um galho de vez em quando).

Ah, os rumores são verdadeiros: fechado, o Z Flip cabe muito bem no bolso da calça ou da blusa, por exemplo.

À esquerda está a gaveta para o SIM card (mas o Z Flip também suporta eSIM)

Mas o barato está em deixar o celular dobrado enquanto você não estiver usando ele ou quando uma tarefa que não exige a tela estiver em execução — reprodução de música, por exemplo.

Aqui eu notei um certo “desperdício de potencial”. Na traseira, bem ao lado das câmeras, o Galaxy Z Flip ostenta uma telinha Super AMOLED de 1,1 polegada. Ela mostra as horas, notificações, o número de quem estiver ligando e controles de áudio, por exemplo.

Se você quiser tirar uma selfie em grupo com as câmeras traseiras, a telinha é capaz até de mostrar se todo mundo foi enquadrado (é engraçado ver a sua cara em um display tão diminuto).

Samsung Galaxy Z Flip - tela externa

Eis o tal do “desperdício de potencial”: se essa tela fosse maior — talvez ocupando quase toda a metade superior —, a proposta dobrável do Z Flip faria mais sentido, pois você conseguiria realizar um monte de tarefas com o smartphone fechado usando apenas uma mão. Aí, se você quisesse jogar ou assistir a um vídeo em tela cheia, bastaria abrir o dispositivo.

Sobre o uso do celular com uma só mão, quando você recebe uma ligação, pode atendê-la por meio da telinha, sem abrir o aparelho. Nesse caso, o Z Flip ativa o viva-voz automaticamente. Mas essa é uma das poucas exceções. Para a maioria das tarefas possíveis, você vai ter que usar o dispositivo com as duas mãos, até para desdobrá-lo — para abrir o Z Flip com apenas uma mão, só com muito treino.

O Galaxy Z Flip vem com o Android 10 e a já bem conhecida interface One UI. Assim como nos demais smartphones da família Galaxy, ela é acompanhada de aplicativos da Microsoft e da própria Samsung: Bixby, Samsung Pay e Samsung Health, por exemplo, marcam presença.

A experiência que você encontra aqui não difere muito da que é oferecida por outros aparelhos atuais da Samsung. As diferença estão nos detalhes. Por exemplo: lembra quando eu disse que você pode usar o Z Flip “sentado”? Se você fizer isso com o YouTube, o app vai se ajustar para deixa o vídeo ocupando só a parte superior da tela.

Samsung Galaxy Z Flip - app de câmera

Se você trocar o YouTube pelo aplicativo de câmera, a parte superior da tela mostrará o enquadramento enquanto a inferior dará acesso aos ajustes de foto. Legal a Samsung ter trabalhado nesse detalhe.

Não é uma novidade, mas a discreta alça lateral que exibe os últimos aplicativos abertos quando arrastada para o lado também é legal. Você pode posicioná-la à direta ou à esquerda da tela, bem como escolher os apps que aparecem por lá.

Samsung Galaxy Z Flip - barra de atalhos

Diferentona que é, a tela do Galaxy Z Flip rouba a cena o tempo todo, mas não desprezemos as câmeras do modelo: elas não chegam a bater as fotos feitas com a linha Galaxy S20, por exemplo, mas fazem um trabalho muito bom — na verdade, elas estão mais próximas das câmeras do Galaxy S10.

A dupla traseira (ou externa) é formada por dois sensores de 12 megapixels, a principal com estabilização óptica de imagem e abertura f/1,8, a secundária com lente grande angular de 123 graus e abertura f/2,2.

Samsung Galaxy Z Flip - câmeras e tela externa

Comecemos pela principal. As condições de iluminação são favoráveis? Ela vai fazer fotos com níveis bem controlados de ruído e pouca perda de definição. De noite também. Com luz reduzida, dá para notar um pouco mais de ruído, mas só prestando muita atenção, mérito do pós-processamento bem equilibrado.

Eu sou suspeito para falar sobre a grande angular. Sempre gostei desse tipo de câmera. O que eu achei interessante na do Galaxy Z Flip é que, ao contrário de muitos celulares que eu já testei, as fotos feitas com ela têm níveis de coloração, saturação e definição muito semelhantes às da principal.

O mais notável nessa câmera é que ela capricha na distorção. Isso é ótimo, por exemplo, para fazer um ambiente fechado ser totalmente enquadrado, mas tomadas externas podem exigir de você um cuidado extra com os ângulos para evitar distorções bizarras nos cantos da foto.

Principal

Grande angular

Principal

Grande angular

Principal

Grande angular

Principal

Grande angular

Com 10 megapixels e abertura f/2,4, a câmera frontal chama menos atenção, mas também faz um bom trabalho. De modo geral, as selfies registradas com ela têm ótima definição e coloração realista. Só é preciso um pouco de atenção com o desfoque de fundo: feito por software, não é raro esse efeito desfocar o que não deveria.

Selfie registrada com o Samsung Galaxy Z Flip

Com fundo desfocado

Tenho pouco o que falar sobre o desempenho. Simplesmente porque tudo funciona de modo lindamente fluído aqui. Pudera: o hardware básico do Galaxy Z Flip é composto por um chip Snapdragon 855+, 8 GB de RAM e 256 GB de armazenamento — não há gaveta para microSD, mas essa capacidade compensa.

Durante o tempo em que usei o aparelho, todos os aplicativos testados abriram rapidamente e funcionaram sem lentidão, fechamentos inesperados ou qualquer outro tipo de problema. Além disso, a alternância entre os apps abertos foi praticamente instantânea. Nos jogos, a GPU Adreno 640 rodou títulos como Breakneck e Asphalt 9: Legends com gráficos no máximo sem pestanejar.

Mas sabe quando você estranha quando tudo vai bem demais? Apresento a vocês a bateria de 3.300 mAh. Ok, seria injusto dizer que ela é ruim, mas eu esperava mais dela.

No dia de testes, rodei duas horas de vídeo via Netflix com brilho máximo na tela, meia hora de YouTube, meia hora de Breakneck e Asphalt 9: Legends (somados), uma hora e meia de redes sociais e navegador nativo, uma hora de Spotify via alto-falante e fiz uma chamada de 10 minutos.

Comecei os testes pela manhã, com 100% de carga. Por volta das 22:00, a bateria estava em 28%. Isso significa que o aparelho pode ficar um dia inteiro longe da tomada, mas talvez você tenha que levar a sério a máxima “aprecie com moderação” para a bateria não te deixar na mão.

Ah, o tempo de recarga de 20% para 100% foi de uma hora e meia com o carregador que acompanha o celular.

Samsung Galaxy Z Flip

O alto-falante, localizado na parte inferior do Galaxy Z Flip, também não impressiona. O som até é claro, mas fica distorcido no volume máximo. Como sempre, a experiência é melhor com fones de ouvido. O aparelho não vem com conexão de 3,5 mm, mas é acompanhado de fones USB-C da AKG.

Talvez seja por uma certa resistência ao novo, mas eu comecei os testes do Galaxy Z Flip achando que não iria encontrar utilidade para a tela dobrável dele. Mas a verdade é que você consegue incorporar o aparelho facilmente ao seu dia a dia.

De repente eu estava ouvindo música com o celular fechado, usando apenas a telinha externa para avançar de faixa. Me peguei também deixando o aparelho “sentado” durante uma videoconferência, como se ele fosse um notebook. Essa posição também é ótima para tirar fotos de objetos sem ter que recorrer a um tripé ou algum outro tipo de suporte.

Samsung Galaxy Z Flip - câmera frontal

Para completar, o Galaxy Z Flip tem desempenho consistente, boas câmeras e uma tela que, quando totalmente aberta, é ótima para consumo de conteúdo.

Só não digo que ele é perfeito porque a bateria não é lá essas coisas e o alto-faltante é só ok. Além disso, a tela externa é útil, mas seria muito mais se fosse maior — quem sabe na próxima geração?

O problema de experimentar uma tecnologia que se propõe a ser disruptiva fica para o bolso: o preço oficial do Galaxy Z Flip no Brasil é de R$ 8.999. É possível encontrá-lo com descontos acima de R$ 1.000 no varejo, mas ele continua caro.

Sendo assim, o Galaxy Z Flip aparece como opção para quem tem dinheiro no caixa e realmente é aberto a experimentar novos conceitos. Se é o seu caso, só é bom não criar grandes expectativas: o dobrável da Samsung irá entregar uma experiência diferente, mas não é nada que irá revolucionar a sua rotina.

É por isso que eu não arrisco dizer que celulares dobráveis se tornarão comuns em um futuro próximo. Acho mais provável que eles continuem surgindo, mas seguindo o mesmo caminho dos tablets: se tornando produtos de nicho.

Samsung Galaxy Z Flip

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