Imagine esta situação: você está em um dia normal e de repente o relógio que está no seu pulso alerta que o seu batimento cardíaco está acima do normal. Você não sente nada, porém o smartwatch continua a alertar que algo não está bem. Embora essa situação pareça utópica, a verdade é que muitos wearables monitoram a sua saúde o tempo todo e eles começaram a ir além: relógios inteligentes estão — literalmente — salvando vidas, e relatos não faltam.
Na realidade, essa história é do influenciador Jorge Freire (@nerdpai). O influenciador de 48 anos foi salvo por um Apple Watch Series 5 poucos dias depois do Natal de 2019. A história, compartilhada em sua página no Facebook, viralizou, chegou a ser contada em telejornais e foi mais longe, em Cupertino, na Califórnia (EUA), mais especificamente na caixa de e-mails do Tim Cook, CEO da Apple.
Jorge é dono de Apple Watch desde o primeiro, lançado em 2015, e ele conta que usa o relógio para programar timer, fazer lista de compras, mandar mensagens e realizar pagamentos por aproximação (com NFC), além, é claro, de monitorar a sua saúde. Ao Tecnoblog, o influenciador diz que comprou o dispositivo justamente para ajudar durante os exercícios físicos em um processo de emagrecimento. A relação com o relógio ficou ainda mais próxima após o gadget salvar a sua vida.
No dia 27 de dezembro, eu estava em São Paulo para entregar um carro, aí voltei de ônibus, porque eu moro em Sorocaba (SP), descendo do ônibus eu senti o Apple Watch “balançando” [vibrando] e falou que meu batimento cardíaco estava […] acima do normal. Eu falei ‘ué, eu estava sentado até agora, não era possível’.
Fiquei monitorando e estava batendo 170/180 batimentos por minuto, altíssimo, nem em ginástica eu não conseguia chegar nisso. Aí eu esperei um pouquinho, para ver se normalizava, não normalizou, fui para o hospital […]. Aí pessoal [do hospital pediu para] fazer a ficha [de atendimento] e eu disse que não tem como fazer ficha porque meu relógio está contando que eu estou com possível taquicardia faz meia hora e não está baixando. Na hora me levaram, fizeram os testes, estava batendo certinho o batimento cardíaco do meu Apple Watch em relação ao equipamento profissional, igualzinho. Dessa forma, conseguiram identificar, não foi nada grave, também, foi uma taquicardia benigna, que eles chamaram [e] fiz um monte de exame.
Jorge Freire (Nerd Pai), dono de um Apple Watch Series 6
Essa situação ainda gerou uma grande curiosidade da equipe médica na hora, todo mundo queria entender como o relógio foi capaz de salvar a vida de Freire. Depois disso, ele escreveu para o Tim Cook e não é que o executivo respondeu? Cook retornou: “estou muito contente por você estar bem agora. Obrigado por compartilhar sua história conosco — isso nos inspira a continuar progredindo”.
Esse pequeno dispositivo não só traz benefícios para os consumidores, isso porque os fabricantes têm lucrado bastante com eles. Nem a pandemia conseguiu frear o sucesso de vendas dos dispositivos — os números mostram claramente isso: em maio, o Tecnoblog mostrou que quase 14 milhões de smartwatches foram comercializados nos três primeiros meses de 2020, enquanto 11,4 milhões foram vendidos no mesmo período de 2019, revelou a Strategy Analytics.
A Apple continua na liderança absoluta com o seu popular Apple Watch. Outras empresas que se destacam nesse mercado são: Samsung, Huawei, Garmin, Imoo, entre outras.
Agora, outro cenário: você vai ao médico e, repentinamente, descobre que tem poucos dias de vida, porém o smartwatch conseguiu evitar essa fatalidade. Isso realmente aconteceu e o grande protagonista dessa história é o Samsung Galaxy Watch Active 2 que ajudou o Lucas Godinho, 38, a não sofrer um ataque cardíaco.
Eu fiz uma atualização [no Galaxy Watch Active 2] e fui calibrar para fazer a medição de pressão […]. Eu nunca tive problema de pressão […] aí eu olhei aquilo [a elevação apontada pelo dispositivo] e pensei ‘tem algo errado’, ‘será que a calibração está certa?’, ‘será que o relógio está certinho?’.
Mas o aparelho [de medição] estava dando alta [também] e aí comecei a acompanhar isso, todos os dias eu ia fazendo a medição no relógio, várias vezes por dia […] e estava dando um pico. Fui vendo os números por cerca de duas, três semanas e os batimentos cardíacos também, o relógio faz um comparativo quando está mais alto, mais baixo, e em pequenos exercícios que eu fazia, era possível reparar que os batimentos estavam elevados, como se eu estivesse correndo ou pedalando, e, na verdade, era uma coisa simples: uma caminhada, uma ida ao mercado.
Lucas Godinho, dono de um Samsung Galaxy Watch Active 2
O Lucas contou ao Tecnoblog que o Active 2 continuava a alertar que sua pressão e os batimentos cardíacos estavam altos, e o mais impressionante é que ele não sentia nada, situação muito parecida com a do Jorge Freire. Depois de algumas semanas, Godinho resolveu procurar um médico e veio o diagnóstico.
Eu fui percebendo que tinha alguma coisa errada, eu precisava procurar um cardiologista. Aproveitei que esses dados ficam todos armazenados, busquei a cardiologista e apresentei [os dados registrados pelo relógio]. Ela [a médica] ficou surpresa que foi um relógio que tinha me alertado […]. Eu falei, olha, o meu smartwatch está me alertando que a minha pressão está alta e os meus batimentos estão altos, também […]. Ela começou a ver que eu estava há semanas naquela situação […] fez os pedidos dos exames e em uma semana e meia depois conseguiram identificar o meu problema: uma obstrução na artéria esquerda […] estava com 95% obstruída, era questão de dias, de horas. Eles nem sabem explicar como eu estava trabalhando, andando…
Tanto os relógios inteligentes como as smartbands trazem vários recursos de saúde embarcados. A partir deles, o usuário pode monitorar a sua saúde de forma recorrente e deixar tudo sincronizado no smartphone. Graças aos sensores cada vez mais avançados, o vestível consegue fazer contagem de passos, acompanhar o seu sono e o nível de estresse como até entregar experiências mais completas como, por exemplo, alertar quando o seu batimento cardíaco está irregular.
Quando a gente começou a falar de relógio inteligente (a três, quatro, cinco anos atrás) tinha muito a questão educacional, as pessoas viam e [pensavam] ‘o que é isso?’, ‘para que serve?’. Hoje […] todos já sabem que, com o relógio inteligente, eu consigo monitorar o meu sono, monitorar a minha atividade física… Você fica sentado ali trabalhando por horas e, às vezes, não percebe, está tão concentrado que não nota que passou duas horas, três horas [sentado]… [A pessoa] ficou parada e isso, claro, não é bom para a saúde […] Hoje, você tem ali [no relógio] todos os elementos, todos os sensores, que vão trazer essas informações, que vão monitorar a sua saúde […].
Renato Citrini, gerente sênior de produto da divisão de dispositivos móveis da Samsung Brasil
Durante a pandemia, a medição da saturação de oxigênio no sangue (SpO2) ficou ainda mais popular em relógios inteligentes e há uma explicação para isso. Descobriu-se que a COVID-19 afeta o nível de oxigênio sanguíneo (hipóxia), portanto, os smartwatches com essa funcionalidade aprovada, poderiam “ser usados como oxímetro” e ajudar na detecção da doença.
Outro recurso disponível é o eletrocardiograma (ECG), que requer autorização de uma agência reguladora em cada país, no Brasil essa liberação é de responsabilidade da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Para analisar a frequência cardíaca, muitas empresas utilizam uma tecnologia chamada de fotopletismografia, que faz a detecção através do LED verde presente nos aparelhos.
Já para quem pratica esportes, os vestíveis trazem outras funções interessantes para corrida, caminhada, natação, ciclismo, entre outras, além de contarem com GPS. Aqui, em especial, entram as smartbands que são mais simples e acessíveis, mas entregam os recursos esportivos completos.
Como vimos aqui, esses dispositivos são grandes aliados para a qualidade de vida, mas ainda devemos nos atentar a alguns cuidados de privacidade e até de interpretação das informações, e quem alerta isso é o especialista Vitor Mori, que conversou com o Tecnoblog.
A tecnologia avança muito mais rápido que a legislação e as implementações, então eu acho que é uma coisa para se prestar atenção […] a gente tem que tomar um pouco de cuidado com relação à segurança, privacidade e, eventualmente, um hackeamento de uma base de dados que acaba vazando informações de muita gente. Outra coisa que me preocupa é usar isso como parcimônia e não achar que por estar usando um desse está tudo, você não precisa procurar um médico ou, outra coisa que é muito comum, o autodiagnóstico.
Vitor Mori, doutor em engenharia biomédica e pós-doutorando na Universidade de Vermont
Além disso, é importante frisar que o fato dos smartwatches ajudarem na saúde não significa que os aparelhos podem diagnosticar, tampouco eles são considerados equipamentos médicos. Essa capacidade de detectar possíveis doenças ainda gera uma enorme reflexão, mas, com o avanço da tecnologia, os wearables têm se tornado grandes auxiliares em diagnósticos. Mas e no futuro? Eles conseguirão dar resultados?
O diagnóstico eu acho muito difícil que ele seja feito só por uma máquina. É uma coisa que precisa de uma relação humana […]. O que ele pode dar são marcadores clínicos: você está com a frequência cardíaca alta [por exemplo]. Quanto mais preciso o equipamento, quanto mais correta for a medição, melhor, e a questão mais importante é: o que a gente vai fazer com essa informação […]. Sem o trabalho de um médico especializado a coisa fica um pouco complicada.
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