Aconteceu: o Adobe Flash Player chegou ao fim. Depois de quase 25 anos de existência, o plugin alcança a sua data limite nesta quinta-feira (31). A ferramenta será encerrada de vez, deixando todo um legado e passando o bastão para os padrões que já conquistaram a web, como o HTML5, WebGL e o WebAssembly.
Ainda que quase inexistente na internet de hoje, a importância da plataforma é indiscutível seja no passado ou nos dias atuais. Afinal, é ela a responsável por animar a web quando tudo ainda era mato, pelos vídeos do YouTube até o site aderir ao HTML5 por padrão e até mesmo o que possibilitou os joguinhos de navegador.
A história do Flash vem lá dos anos 1990. O software tem suas origens em uma empresa cofundada por Jonathan Gay em 1993, a FutureWave. A companhia marcou sua estreia no mundo com o SmartSketch, um software voltado para ilustração.
Após mudanças no mercado, em 1996, a companhia concentrou seus esforços em animações na web com o lançamento do FutureSplash Animator, que atraiu a atenção de empresas como a Disney e a Microsoft. Até que, no fim do mesmo ano, a FutureWave foi adquirida pela Macromedia e o programa foi rebatizado como “Macromedia Flash”.
O programa passou para outras mãos novamente em 2005, quando a Adobe comprou a Macromedia. Após a transação, a plataforma, enfim, ganhou o nome que conhecemos até hoje: Adobe Flash Player.
O sucesso do software era notável. Para se ter uma ideia, ainda em 2014, ano de introdução do HTML5, oito em cada dez usuários do Google Chrome acessavam algum site com Flash pelo computador diariamente. “Hoje, apenas 17% dos usuários visitam sites com Flash e continuamos a ver uma tendência de queda à medida que os sites mudam para HTML”, disse o Google em 2017.
O plugin conferia aos desenvolvedores desde funções mais simples, como a criação de banners, menus e demais elementos de páginas da web, até a reprodução de conteúdos multimídias, como músicas e vídeos. Mas os games que rodavam pelo navegador estão entre as atrações mais marcantes da plataforma.
O Flash não entrou na década de 2010 muito bem. O Android foi um dos últimos territórios onde o software pisou antes de sua derrocada. Após o anúncio para plataformas móveis em 2009, como Android, Symbian, Windows Mobile e WebOS, o software chegou ao sistema do Google em junho de 2010.
O iPhone, iPad e o iPod Touch, porém, nunca receberam o suporte ao plugin. Na época, Steve Jobs, ex-CEO e cofundador da Apple, argumentava que a tecnologia não teria bom desempenho nos celulares, o que afetaria diretamente a duração da bateria. O acesso ao recurso em produtos móveis da marca era possível somente com jailbreak.
Em outubro de 2010, durante o evento “Back To The Mac”, Steve Jobs ainda anunciou que os computadores da Apple não viriam mais com o plugin instalado de fábrica. No entanto, caso quisessem, os usuários poderiam baixá-lo livremente.
A decisão aconteceu poucos meses após a publicação da carta aberta “Pensamentos sobre Flash”, em abril de 2010. O documento saiu do ar por volta de 14 e 18 de junho de 2020, conforme observado no acervo de páginas do Internet Archive, mas você ainda pode conferi-lo na íntegra e em inglês (web.archive.org).
Com esses episódios e a chegada dos padrões atuais, estava demarcado o início do fim do Flash. Além disso, diversas falhas de segurança no Windows e no macOS elencaram críticas à plataforma naquela época, incluindo algumas que permitiam o acesso remoto aos computadores.
O plugin para plataformas móveis também não durou muito tempo. Após anunciar que iria parar de desenvolvê-lo para celulares e tablets, a Adobe lançou a última versão do software em novembro de 2011. No ano seguinte, o Flash para Android partiu de vez.
Mas a notícia de que a plataforma tinha data de validade só chegou, mesmo, em 2017, tempos após o lançamento de uma ferramenta que convertia Flash em HTML5 pela própria companhia. Em julho, a Adobe revelou que em três anos (ou seja, hoje), o plugin chegaria ao fim para dar a vez a padrões abertos, como o HTML5, WebGL e WebAssembly.
“Nós vamos parar de atualizar e distribuir o Flash Player no final de 2020 e encorajar os criadores de conteúdo a migrar qualquer conteúdo em Flash existente para esses novos formatos”, disse a empresa na época.
A Adobe também retirou algumas páginas sobre a plataforma do ar, como uma publicação feita por Gay que conta a história do Flash. Pelo Internet Archive, é possível acessar uma versão salva em 21 de agosto de 2014 ainda com o conteúdo disponível. Em 15 de junho de 2015, o site já retornava o erro “desculpe, esta página não está disponível” (em tradução livre).
De lá para cá, o desfecho da novela era só uma questão de tempo. Não à toa, em 2018, o Flash estava presente em somente 5% dos sites da internet. Logo depois, o Shockwave também teve seu fim decretado, em 2019. Em setembro de 2020, o Internet Explorer começou a alertar sobre seu encerramento. Até receber a sua última atualização, em dezembro.
“Esperamos que o Flash tenha desempenhado um papel crítico na criação de animação, interatividade, conteúdo de áudio e vídeo da web e esperamos ajudar a moldar a próxima era de experiências digitais”, agradeceu a Adobe nas notas de atualização liberada no último dia 8.
Uma das últimas aparições do Adobe Flash Player aconteceu por volta do fim de semana do Natal, quando o plugin emitiu notificações pedindo para ser desinstalado. Como será explicado mais adiante, a remoção do software é uma das recomendações da Adobe para antes, durante e após o término de seu suporte.
Hoje, segundo a W3Techs, o Flash está disponível em somente 2,2% dos sites.
Esta quinta-feira (31) marca o fim do Flash Player. Isto significa que, a partir de hoje, o plugin perderá o suporte oficial por completo e não receberá atualizações. O bloqueio de execução de conteúdos, por sua vez, entra em vigor em 12 de janeiro de 2021.
Procurada pelo Tecnoblog, a Adobe explica “não existirão versões alternativas do Flash Player para download em sites terceiros autorizadas pela Adobe”. A companhia diz ainda que os usuários não devem usar versões “não autorizadas” do software, assim como recomenda a remoção completa do programa.
“O Flash Player permanecerá nos computadores das pessoas, a menos que elas o desinstalem. A desinstalação do Flash Player ajudará a proteger os sistemas, pois a Adobe não pretende lançar atualizações ou patches de segurança para ele após a Data End of Life (EOL)”, afirmaram.
Os navegadores também farão (ou já fizeram) a sua parte. A Mozilla, por exemplo, avisou que o Firefox deixará de ter suporte ao recurso na versão 85, prevista para chegar aos usuários em 26 de janeiro de 2021.
Logo após o anúncio da Adobe, o Google também se despediu. “O Chrome continuará eliminando o Flash nos próximos anos, primeiro pedindo sua permissão para executar o Flash em mais situações e, eventualmente, desativando-o por padrão”, disseram em 2017. “Removeremos completamente o Flash do Chrome no final de 2020”.
Em setembro de 2020, a Microsoft detalhou o fim do suporte ao Adobe Flash no Windows. Além de disponibilizar uma “Atualização para remoção do Adobe Flash Player”, a Microsoft disse que o Microsoft Edge se despedirá do plugin em janeiro de 2021. O Internet Explorer também já começou a avisar aos usuários sobre o encerramento.
Questionada pelo Tecnoblog sobre o acesso aos arquivos SWF no futuro, a empresa afirmou que “uma vez que a Adobe não oferecerá mais suporte ao Flash Player após 31 de dezembro de 2020 e bloqueará a execução do conteúdo em Flash no Flash Player a partir de 12 de janeiro de 2021, a Adobe recomenda fortemente que todos os usuários desinstalem imediatamente o Flash Player para ajudar a proteger seus sistemas”. Eles ainda ressaltaram a existência dos novos padrões abertos como alternativa.
Ainda assim, isto não significa o fim das inúmeras animações, jogos e vídeos que existiram e existem por aí. Isto porque o Internet Archive, conhecido pelo seu acervo gigantesco de arquivos e sites antigos da internet, já está guardando e emulando conteúdos para o plugin.
A iniciativa faz parte do projeto The Emularity, que também é responsável por manter vivo inúmeros joguinhos para MS-DOS. Dessa forma, os usuários não apenas podem enviar seus arquivos SWF para que sejam mantidos e para contar história como poderão acessá-los diretamente pelo navegador.
A emulação é realizada através do Ruffle. “Embora a compatibilidade do Ruffle com o Flash seja inferior a 100%, ele reproduz uma grande parte da animação histórica do Flash no navegador, a uma taxa uniforme e precisa”, anunciaram em novembro.
A reprodução não precisa de download algum, e nem do plugin instalado no computador. O pré-requisito único é utilizar um browser compatível com WebAssembly, como o Google Chrome, Microsoft Edge, Mozilla Firefox e Safari. Depois, é só aproveitar os mais de dois mil conteúdos feitos para o plugin diretamente pelo seu navegador: archive.org.
Por aqui, já aproveitei bastante o acervo para me divertir e relembrar de joguinhos para Adobe Flash Player que marcaram minha infância e adolescência, como o Ultimate Flash Sonic. E você, o que mais gostava de jogar pela plataforma?
Com informações: Ars Technica, Internet Archive (Blog) e Mashable
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