O iOS 14 foi revelado pela Apple com uma tela de início redesenhada, reforço na privacidade, funções novas de acessibilidade e um Safari mais rápido, privado e seguro. Com versão final prevista para meados de setembro, ele poderá ser instalado em todos os celulares desde o iPhone 6s, lançado em 2015.
Muitos recursos do iOS 14 foram destacados no evento para desenvolvedores da Apple, mas a empresa não te contou tudo o que há de novo. Eu instalei o primeiro beta em um iPhone de teste e mostro as dez melhores novidades a seguir.
Eu começo com um grande tópico sobre acessibilidade porque essa área recebeu avanços enormes que nem sequer foram citados pela Apple. No iOS 13, a novidade era o Controle por Voz, que permitia usar o iPhone e fazer gestos multitouch sem usar as mãos, um recurso útil para pessoas com deficiência física. Agora, as novidades são voltadas principalmente para quem não enxerga ou não ouve.
O VoiceOver é um recurso que fala o que está escrito na tela, permitindo o uso do iPhone por pessoas cegas ou com baixa visão. Mas ele não fazia milagres: se o aplicativo não fosse acessível (o que é bem comum) ou se um site publicasse uma foto sem descrição, esses conteúdos eram perdidos. No iOS 14, o iPhone pode reconhecer textos dentro de imagens, descrever uma foto com inteligência artificial e analisar todos os elementos da tela para melhorar sozinho a acessibilidade dos apps (!).
Para quem não escuta, outra novidade bacana é o Reconhecimento de Som. Pessoas surdas não ouvem a campainha, um bebê chorando ou cachorro latindo no outro cômodo. Agora, elas poderão usar o iPhone para tomar conhecimento desses sons. Quando uma sirene tocar, alguém bater na porta ou estiver escorrendo água em algum lugar, o iPhone manda uma notificação para alertar o usuário (e tudo é configurável).
E mesmo quem não tem nenhum tipo de deficiência física pode se beneficiar de um truque novo: os iPhones reconhecerão toques duplos ou triplos na traseira e executar uma ação que você escolher. Dois tapinhas nas costas do iPhone podem fazer desde um print ou abrir a Central de Notificações até criar um PDF da página que você estiver lendo. Eu já estou pensando no que vou escolher de atalho aqui.
A primeira (e maior) novidade visual está logo na tela de início: finalmente é possível usar widgets de aplicativos no iOS 14 (usuários de Android e saudosos do Windows Phone, esta é a deixa para vocês comentarem). Esses widgets estão disponíveis em diferentes tamanhos e mostram a previsão do tempo, os últimos podcasts, seus próximos compromissos ou o que mais os aplicativos suportarem.
À direita da tela de início, existe um novo recurso chamado Biblioteca de Apps, que lista todos os aplicativos instalados em uma única tela e com organização automática em categorias como Produtividade, Entretenimento ou Social — essas categorias são ordenadas de acordo com o seu uso. Um deslizar de dedo para baixo mostra uma lista de todos os aplicativos em ordem alfabética.
Mas não fica redundante? Não, porque finalmente é possível ocultar aplicativos da tela de início e deixá-los só na Biblioteca de Apps. Você pode inclusive ocultar uma página inteira. Muitos usuários de iOS têm aquela pasta da bagunça, onde ficam todos os aplicativos que você usa de vez em nunca e não quer que ocupem espaço desnecessário na sua tela. A nova tela de início acaba com esse macete.
Os App Clips são versões compactas de aplicativos que só oferecem o que você precisa naquele momento. Eles são executados de forma quase instantânea, sem necessidade de instalação prévia.
Por exemplo, imagine que você decidiu alugar um patinete compartilhado para se deslocar em um dia qualquer, mas não tem nenhum aplicativo de mobilidade instalado no seu iPhone. Com o novo recurso, é só escanear um QR Code ou aproximar a traseira do iPhone em uma etiqueta NFC que, depois de alguns segundos, surge uma tela para confirmar o aluguel.
A grande sacada é que essas “partes de aplicativos” podem funcionar com o Apple Pay e com o botão Iniciar sessão com a Apple, assim você não precisa fazer um cadastro nem digitar o número do seu cartão quando quiser testar um serviço novo.
O iOS 14 finalmente suporta o recurso Picture in Picture (PiP), que reproduz um vídeo no canto da tela enquanto você faz outras tarefas. A imagem pode ser movida para qualquer canto, redimensionada ou até escondida na lateral, para que o áudio continue tocando sem interferir na sua tela. Isso vai funcionar tanto com aplicativos de vídeo quanto nas chamadas do FaceTime.
Falando em “interferir na sua tela”, não tem nada mais irritante do que estar concentrado em algum aplicativo e o iPhone quebrar toda a sua atenção com uma tela toda colorida com um ícone piscante porque um número que você nem conhece resolveu te telefonar.
O iOS 14 está muito mais econômico em termos de espaço visual. Quando você recebe uma chamada, um banner aparece no topo da tela; se quiser recusar a ligação, é só deslizar a notificação para cima. O aplicativo Telefone e o FaceTime já adotaram esse novo estilo, mas a Apple abriu o recurso para aplicativos de terceiros (WhatsApp, estou olhando para você).
A Siri em tela cheia também morreu. A assistente pessoal só mostra um ícone na parte inferior da tela para mostrar que está te escutando. E, quando você pedir uma informação simples, como uma previsão do tempo, uma tradução ou a idade de uma pessoa, o resultado aparece como uma notificação mais discreta no topo da tela.
Todo mundo já conhece o Google Tradutor, mas a Apple resolveu desenvolver um aplicativo de tradução mais ao seu estilo. O Traduzir suporta 11 idiomas no lançamento: alemão, árabe, chinês, coreano, espanhol, francês, inglês, italiano, japonês, russo e português do Brasil. A privacidade é um diferencial: todas as traduções por texto e voz podem ser feitas no seu iPhone, sem enviar nenhuma informação para a nuvem.
Além disso, se você colocar o celular no modo paisagem, o aplicativo entra no modo de conversação. Um único botão de microfone serve tanto para você quanto para a outra pessoa; quando alguém quiser falar, é só tocar nele que o iPhone detecta o idioma automaticamente e mostra a respectiva tradução ao lado. Por fim, o modo de atenção exibe o texto com uma fonte bem grande para ajudar na comunicação.
O navegador da Apple ganhou melhorias de velocidade e novos recursos para aumentar a privacidade e segurança. De acordo com a Apple, o motor de JavaScript do Safari do iPhone 11 Pro Max é duas vezes mais rápido que o Chrome no Android (a comparação é com o Galaxy S20 Ultra). Vale lembrar que o Chrome no iOS usa o mesmo motor do Safari, por isso não existe diferença de desempenho entre os navegadores no iPhone.
Outras novidades do Safari incluem um relatório de privacidade, que mostra todos os rastreadores bloqueados em um determinado site; e um monitoramento de senhas, que indica quando sua senha sofreu um vazamento e automaticamente cria uma nova combinação segura (ou sugere migrar sua conta para o Iniciar sessão com a Apple nos serviços suportados).
Quem tem fones de ouvido da Apple ganha recursos novos no iOS 14. O mais prático é a troca automática entre dispositivos: se você estiver com os AirPods ligados no iPhone e tocar uma música no Mac, os fones se conectam automaticamente ao computador. Da mesma forma, se estiver assistindo a um vídeo no iPad e atender uma ligação, os fones voltam para o iPhone. Isso funciona com os AirPods, AirPods Pro, Powerbeats, Powerbeats Pro e Beats Solo Pro.
No caso dos AirPods Pro, existe um recurso de áudio espacial que cria uma sensação de som surround, como em um cinema. Isso funciona monitorando os sensores de movimento dos fones e do iPhone para ajustar as frequências, aplicar filtros de áudio e trazer um som mais imersivo. A Apple também abriu uma API para que os desenvolvedores usem os sensores dos AirPods Pro em aplicativos de games ou fitness.
Não é novidade que os aplicativos estão migrando do modelo de pagamento único para as assinaturas mensais. Isso começou com softwares mais profissionais, como o Photoshop e o Office, mas hoje em dia tem até aplicativo de lista de tarefas que funciona assim. No iOS 14, essas assinaturas de apps poderão ser compartilhadas com outras pessoas.
Isso funciona por meio do recurso de Compartilhamento Familiar, que já permitia dividir compras da App Store ou seu espaço adicional no iCloud. A novidade pode acabar incentivando a migração de mais aplicativos para o modelo de assinatura, mas a boa notícia é que talvez você não precise mais fazer duas assinaturas diferentes.
Um dos novos recursos de privacidade é a localização aproximada: sabe quando um aplicativo exige acesso à localização, mas você tem noção de que ninguém precisa do seu endereço exato só para mostrar a previsão do tempo? O iOS pode enviar uma localização imprecisa de GPS, como seu bairro ou cidade, para manter sua privacidade.
Outra novidade é o acesso limitado às fotos. Sempre que você quiser enviar uma imagem para um aplicativo, pode decidir se ele acessará sua galeria completa (como sempre aconteceu até agora) ou apenas fotos específicas. E o iOS 14 também vai dedurar quando um aplicativo estiver usando o microfone ou a câmera, com um ponto laranja que aparece no canto da tela.
Além disso, o recurso Iniciar sessão com a Apple, que permite criar uma conta em um novo serviço com um clique, sem preencher um formulário de cadastro nem informar seu endereço de e-mail verdadeiro, será mais usado no iOS 14: é que os aplicativos poderão colocar uma opção para você migrar sua conta já existente para uma conta atrelada ao seu Apple ID. Já era hora!
O iOS 14 tem outras novidades, mas elas não entraram na lista por diversos motivos: o Mensagens trouxe bons recursos, mas estamos no país do WhatsApp; o Apple Maps ainda está bem atrás do Google Maps no Brasil; o Wallet pode funcionar como a chave do seu carro (mas inicialmente só se você tiver um BMW) e o HomeKit ainda tem pouquíssimos dispositivos de casa inteligente compatíveis no Brasil.
A data exata de lançamento do iOS 14 não foi informada. A Apple se limitou a dizer que ele estará disponível no outono do hemisfério norte (ou seja, entre setembro e dezembro). Mas uma nova versão do iOS costuma ser lançada junto com um novo iPhone, que tradicionalmente começa a ser vendido todo ano no meio de setembro, então esse é um bom palpite.
O novo iOS estará disponível para os iPhones das linhas SE, 6s, 7, 8, X, XR, XS e 11, além do iPod touch de sétima geração. Os iPads agora rodam o iPadOS 14, que também trouxe novos recursos; mais detalhes em breve aqui no Tecnoblog!
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