A linha de TVs premium da Samsung mudou em 2020. Na geração anterior, a Q80R era a mais sofisticada da marca no Brasil antes dos modelos 8K. Agora, temos uma Q80T com uma proposta diferente: ela não é mais o melhor que você pode obter de qualidade com um painel LCD, papel que ficou para a Q95T, mas ainda promete recursos, conectividade e imagem superiores aos modelos básicos, como a Crystal UHD.
O que não mudou tanto foi o preço. Com tamanhos entre 55 e 75 polegadas, a Q80T pode custar até R$ 20 mil no varejo, competindo diretamente com os modelos mais caros do mercado. Será que vale a pena comprar a TV QLED premium da Samsung? Eu assisti a dezenas de horas de conteúdos na Q80T nas últimas semanas e conto minhas impressões neste review completo.
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Nenhuma empresa, fabricante ou loja pagou ao Tecnoblog para produzir este conteúdo. Nossos reviews não são revisados nem aprovados por agentes externos. A Q80T foi fornecida pela Samsung por empréstimo. O produto será devolvido à empresa após os testes.
O design da Q80T segue o mesmo conceito das outras TVs premium recentes da Samsung, com uma moldura bem fina e uma base metálica centralizada que faz parecer que a tela está flutuando no móvel, como se fosse um monitorzão de 55 polegadas. A traseira inclui as tradicionais canaletas da Samsung que ajudam a prender os cabos e esconder a bagunça.
Infelizmente, o One Connect, que centraliza todas as conexões da TV em uma caixa externa e facilita a organização dos fios, não está mais presente: a tecnologia existia na Q80R, mas ficou restrita à Q95T na nova geração. As conexões ficam concentradas na lateral direita, com duas portas USB, uma Ethernet, uma saída de áudio óptica, três entradas HDMI 2.0 e uma HDMI 2.1. E esse último detalhe merece atenção.
O HDMI 2.1 é especialmente útil para os novos PlayStation 5 e Xbox Series X, que rodam jogos em 4K a até 120 Hz, algo que não era possível em sua plenitude na versão anterior do HDMI. É bom que a tecnologia esteja na Q80T, mas me incomoda o fato de estar em apenas uma porta: a LG, por exemplo, tem incluído HDMI 2.1 em todas as quatro entradas das TVs OLED, e mesmo modelos mais simples, como a Nano86, possuem ao menos duas conexões no novo padrão. Bola fora da Samsung.
O controle remoto da Q80T é o mesmo que acompanha outras TVs básicas da marca, como a TU8000, com acabamento de plástico preto, design compacto e poucos botões. Três botões de atalho podem abrir rapidamente o Amazon Prime Video, a Netflix ou o Globoplay, enquanto um microfone permite chamar a Alexa, a Bixby ou o Google Assistente.
A imagem da Q80T é boa, apesar de ter me dado uma pontinha de decepção. Isso porque houve uma piora em relação à Q80R de 2019, já que a nomenclatura da Samsung tende a confundir o consumidor por não criar sucessores diretos. A Q80T, pelas suas características técnicas, na verdade entra no lugar da Q70R. Enquanto isso, a sucessora legítima da Q80R na linha brasileira é a Q95T. Estranho, né? Eu também acho.
Dentro das expectativas ajustadas, a Q80T entrega uma bela qualidade de imagem, que não chega a ter o brilho e o contraste dos modelos LCD mais caros do mercado, mas que é notavelmente superior às TVs 4K mais acessíveis.
O brilho da Q80T tem vigor, sendo suficiente para dar conta de ambientes bem iluminados, com muita entrada de luz natural. O volume de cores, um ponto que a Samsung gosta de destacar nos modelos QLED em seus materiais publicitários, também é ótimo, não apresentando nenhum color banding em conteúdos reais ou até nos meus testes sintéticos. Céus, campos de futebol e texturas são muito bem representados.
A uniformidade de preto é excelente, sem vazamento de backlight perceptível na minha unidade de teste. O contraste poderia ser melhor, mas é mais que satisfatório dentro da categoria da Q80T. E o painel, embora seja do tipo VA, consegue oferecer um ângulo de visão suficiente para quase todas as situações, não apresentando perda de brilho ou saturação mesmo sentando a 45 graus, o que torna a TV uma boa opção mesmo pra salas de estar mais largas.
Apesar de ter full-array local dimming, eu consigo perceber nuvens em torno de objetos contrastantes que são maiores do que eu gostaria, indicando que a Samsung poderia ter incluído um controle mais preciso. De fato, a própria fabricante, usando uma nomenclatura própria e sem citar números exatos, indica que a Q80T tem a metade das zonas de iluminação da Q80R, com Direct Full Array 4X, contra 8X da geração passada.
Além disso, nas configurações padrão, o controle de backlight é muito agressivo para tentar oferecer um preto profundo como o das TVs OLED, o que tende a esconder objetos menores na tela, como estrelas em céus, ou deixar toda a imagem muito escura. Depois de um tempo perdido nos ajustes, a exibição de cenas escuras melhorou bastante.
O painel da Q80T suporta taxa de atualização variável de até 120 Hz, o que é uma boa notícia para quem pretende ligar um videogame ou um computador gamer na TV. Nos meus testes em 4K a 60 Hz, conectado à porta HDMI 2.1, a latência foi ótima, ficando abaixo dos 15 milissegundos no modo de jogo.
Os alto-falantes integrados da Q80T não fazem muito além do básico, mas estão melhores que na Q80R, especialmente no volume, que pode atingir níveis mais altos. No modo inteligente, que deverá ser usado pela maioria das pessoas, os médios são claros e favorecem os diálogos, criando uma sensação agradável de definição. Os graves não têm muita amplitude e não vão chacoalhar sua cabeça, mas estão dentro do esperado para um som integrado.
A grande novidade da Q80T, que também chegou a outros televisores caros da Samsung na nova geração, é o Q Symphony, que faz a TV emitir som pelos falantes integrados e por uma soundbar compatível ao mesmo tempo, de forma sincronizada e inteligente. Como as pessoas tendem a preferir TVs mais finas, é fisicamente impossível ter um bom subwoofer integrado, por isso o recurso faz bastante sentido.
Eu repeti os testes que fiz na Q800T 8K e os resultados foram igualmente bons. Com a soundbar Q60T, a barra e o subwoofer tornavam o som mais encorpado, com graves potentes e diálogos claros, enquanto o som da TV, que não consegue emitir frequências baixas, fazia o trabalho de preencher o resto do ambiente. O recurso Som em Movimento, que tenta fazer o som acompanhar o movimento das cenas por meio dos alto-falantes espalhados pela tela, também ajuda na imersão.
Pena que o Q Symphony exija a compra tanto de uma TV quanto de uma soundbar compatível com a tecnologia. E nenhum dos dois equipamentos é exatamente barato.
A Q80T roda o sistema operacional Tizen, que me agrada pelas telas sóbrias que não tiram a atenção do conteúdo e pela fluidez na navegação nos menus. As mudanças visuais feitas pela Samsung em 2020, que tornaram a interface mais escura, foram muito bem-vindas.
Tanto a Bixby quanto a Alexa podem ser facilmente acessados pelo controle remoto, sendo que a assistente pessoal da Samsung está sempre pronta para ouvir o comando de ativação: é só falar “Hi, Bixby” e pedir o que quiser em português do Brasil. Uma atualização de software adiciona o Google Assistente como terceira opção, mas ela ainda não estava disponível na minha unidade de teste.
A oferta de aplicativos é boa. Além da Netflix, do Amazon Prime Video e do Globoplay, que estão pré-instalados na TV e podem ser facilmente acessados pelo controle remoto, você pode encontrar YouTube, Spotify, Disney+, HBO Go, Apple TV+, Apple Music, Canais Globo, Fox e vários outros serviços. Como nas gerações anteriores, é possível controlar dispositivos compatíveis pelo SmartThings e transformar sua TV em um quadro com o Modo Ambiente.
A Samsung Q80T é uma boa opção de TV 4K premium, embora com ressalvas. Este é um televisor caro, que custa acima dos R$ 5 mil na versão de 55 polegadas, o dobro de um modelo de entrada de tamanho equivalente da mesma marca, como a Crystal UHD TU8000. Para mim, a qualidade de imagem muito superior da Q80T é suficiente para justificar o gasto maior, mas está difícil aceitar algumas escolhas da Samsung.
A primeira decisão controversa é, obviamente, a economia nas conexões: além de não ter One Connect, restringindo um belo diferencial da marca a um modelo ultracaro como a Q95T, não faz sentido oferecer uma única porta HDMI 2.1 em uma TV premium, ainda mais considerando que a concorrência está adotando a nova tecnologia de forma ampla e sabendo que estamos em um ano de lançamento de nova geração de consoles.
Também acredito que seja o momento de falar de outro problema: a birra da Samsung em não adotar o Dolby Vision mesmo nas TVs mais caras. O HDR10+ é um bom padrão aberto para ampliar o alcance dinâmico dos filmes e é relativamente bem aceito pela indústria, mas não é superior à tecnologia proprietária da Dolby.
Até a Sony, que colaborou com a Samsung no desenvolvimento do HDR10, já partiu para outro caminho em suas TVs. A Apple, outra marca de peso, também começou a usar amplamente o Dolby Vision, tanto no Apple TV+ quanto nos iPhones. Se o VHS está ganhando a batalha, não vale a pena ficar forçando o Betamax, porque quem perde é o consumidor.
A Q80T entrega boa qualidade de imagem, tem um software bem acabado e coloca a pontinha do pé no mar das novas tecnologias, sendo uma alternativa interessante para quem não quer se arriscar no OLED por causa do medo do burn-in. A Samsung sabe como construir boas TVs e tem todos os méritos por liderar o mercado global há mais de uma década. Só não pode se acomodar.
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