O Apple Watch Series 6 não foge à regra dos lançamentos de relógios da Apple e representa apenas um pequeno incremento em relação à geração anterior. O novo modelo traz um sensor de oxigênio no sangue, um processador mais rápido e atualizações na tela e no design. Será que é suficiente para manter o reinado da Apple no mercado de smartwatches?
Com preços a partir de R$ 5.299, podendo chegar aos cinco dígitos em modelos de aço inox ou titânio, o Apple Watch Series 6 continua sendo um eletrônico muito caro, ainda mais porque você precisa de um iPhone para usar todas as funções do vestível. Vale a pena? Eu testei o novo Apple Watch nas últimas semanas e conto minhas impressões neste review.
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Nenhuma empresa, fabricante ou loja pagou ao Tecnoblog para produzir este conteúdo. Nossos reviews não são revisados nem aprovados por agentes externos. O Apple Watch Series 6 foi fornecido pela Apple por empréstimo por tempo indeterminado. O produto será usado em conteúdos futuros antes de ser devolvido à empresa.
O formato do Apple Watch Series 6 é o mesmo desde o Series 4. Apesar de gostar do estilo redondo do Samsung Galaxy Watch, o quadrado com cantos arredondados da Apple tem suas vantagens: o aproveitamento de tela é maior e a carcaça pode ser mais compacta, sem bordas dispensáveis. O design reversível permite usar o relógio no braço direito com os botões físicos voltados para a mão, facilitando o acesso aos comandos.
Para não dizer que o Series 6 está idêntico ao anterior, a Apple lançou a versão de alumínio em duas cores novas: vermelho e azul. Eu gostei do azul, mas sinto que ele é menos versátil para combinar pulseiras: a prateada em estilo milanês, que tem uma cara mais séria e sofisticada, destoa da caixa do relógio, mais casual e despojada. Mas as pulseiras de silicone com tons neutros, como cinza, branco ou preto, até que funcionam bem.
A tela OLED do modelo de 40 mm tem excelente definição. Diz a Apple que o brilho quando o pulso está abaixado ficou 2,5 vezes mais forte em relação ao Series 5. A diferença realmente existe, mas mesmo a geração anterior já tinha força suficiente para permitir a visualização sob a luz do sol ao se exercitar. Além disso, o algoritmo que acende a tela quando se levanta o braço sempre foi muito bom no Apple Watch, então não é como se isso fosse uma mudança da água para o vinho.
As novidades de software do watchOS 7 foram, em sua maioria, liberadas para as versões anteriores do Apple Watch. Um recurso exclusivo do Series 6 é o medidor de oxigênio no sangue, que me assustou da primeira vez em que meu pulso ficou vermelho do nada enquanto estava me preparando para dormir. Essa função chega em um momento oportuno (e triste), já que a hipóxia ficou mais conhecida este ano pela relação com a COVID-19.
A Apple oferece um conjunto bastante convincente de funções relacionadas à saúde. O eletrocardiograma ajuda a detectar possíveis arritmias cardíacas e já salvou vidas pelo mundo. O medidor de exposição ao ruído sonoro funciona bem por considerar também o que você escuta através de fones de ouvido no iPhone. Para as mulheres, o Acompanhamento de Ciclo envia previsões de menstruação e período fértil, além de permitir registrar comportamentos e sintomas ao longo dos ciclos.
O monitoramento de sono, uma novidade do watchOS 7, não me agradou por dois motivos. Primeiro porque o Apple Watch ainda não me parece um dispositivo adequado para medições à noite devido à autonomia limitada da bateria, que comento adiante. Segundo porque o recurso ficou muito simples: ele se limita a registrar o total de horas dormidas, sendo que a concorrência já detalha há muito tempo os estágios do sono (leve, profundo e REM) e até mostra pontuações, sugerindo em que você poderia melhorar.
Essa tendência da Apple de simplificar demais os recursos nativos abre espaço para uma força do watchOS, que é o ecossistema amplo de aplicativos de terceiros. O Sleep Cycle, por exemplo, é um ótimo alarme inteligente para te acordar quando você estiver em uma fase mais leve do sono. Também não faltam aplicativos para as diversas modalidades de esportes. Mas eu gostaria muito de ver um Apple Watch mais completo de fábrica.
Um dos meus hobbies é corrida de rua e, todo ano, o Apple Watch é o único smartwatch que me faz balançar entre continuar com meu Garmin ou migrar de vez para o lado da maçã. É claro que as marcas especializadas oferecem um leque de recursos mais amplo, mas a Apple tem a seu favor três pontos importantes: sensores precisos, expansibilidade por aplicativos de terceiros e recursos integrados ao iPhone que nenhuma marca conseguiu chegar perto até hoje.
Para corrida, o aplicativo Exercício é o mais simples possível: basta selecionar o modo desejado, uma contagem regressiva se inicia e, bom, você começa a correr. No máximo, dá para configurar uma meta de tempo ou alertas de ritmo para te ajudar a manter o pace. Eu sinto falta de treinos intervalados ou progressivos diretamente no aplicativo nativo, ou mesmo programas de treinamento para distâncias específicas, como 10K ou meia-maratona, outro recurso muito comum na concorrência.
Mas quem não é tão bitolado pode usar perfeitamente o Apple Watch Series 6. O mínimo que se espera de um bom smartwatch esportivo são bons sensores (e a Apple é ótima nisso). O sensor de batimentos cardíacos é excelente, diferente do Galaxy Watch 3, que tende a fazer leituras erradas em atividades intensas. O GPS também se mostra confiável: eu não vejo o Apple Watch se perdendo facilmente em uma curva acentuada ou em regiões com prédios altos, o que às vezes acontece no Garmin Fenix 6 Pro, por exemplo.
Além disso, a Apple torna muito prático sair para correr só levando o relógio e um par de fones de ouvido. A sincronização com o Apple Music e o Apple Podcasts é rápida e confiável. Se quiser comprar uma água no caminho, é só pagar com o Apple Pay. E, na versão com 4G, você tem acesso liberado a serviços de emergência em mais de uma centena de países mesmo se não tiver configurado um plano de celular no relógio, o que dá uma sensação de segurança.
Mas se tem algo que a Apple ainda não conseguiu resolver (e talvez não resolva em curto prazo) é a bateria, que permanece com autonomia prometida de 18 horas desde a primeira geração, lançada em 2015. Eu notei avanços em vários pontos específicos nos últimos anos, como na duração de bateria ao monitorar corridas com o GPS, mas sempre me incomodo com as “soluções” que a Apple implementa para tentar melhorar a experiência e que, para mim, não passam de gambiarras temporárias.
Nos meus testes, o Apple Watch Series 6 aguentou até mais que o prometido nos dias em que não pratiquei nenhuma atividade física: nas configurações padrão, com a tela sempre ligada, notificações ativadas e usando o monitoramento de sono, foram cerca de 26 horas entre o 100% e o 10% de carga.
Nas minhas corridas, até que o relógio se deu bem: em um longão de 23 km, feito em pouco mais de duas horas, escutando uma playlist do Apple Music previamente salva na memória, a carga do Apple Watch Series 6 foi de 100% para 61% no final da atividade. Isso significa que a bateria é suficiente até para registrar uma maratona, deixando um tiquinho de carga sobrando no final.
Porém, existem problemas ocultos com essa autonomia aparentemente “satisfatória”. Se você quiser usar o Apple Watch para monitorar seu sono, se torna dependente do carregador e precisa abastecer o relógio uma ou duas vezes no meio do dia. A outra questão é que baterias de lítio têm vida útil medida em ciclos. Com uma autonomia baixa, você precisa carregar mais vezes. E carregar a bateria mais rápido ajuda a desgastá-la mais rápido. Atacar esses sintomas não trata a causa, que é a bateria limitada.
E eu nem preciso dizer que esses testes de autonomia foram feitos com poucos ciclos de carga, quando a bateria do Apple Watch está em seu auge. Os resultados seriam obviamente piores após um ou dois anos de uso.
O Apple Watch Series 6 me trouxe as mesmas sensações do Series 5. Ele está longe de ser perfeito e não empolga por trazer pouquíssimas novidades, mas continua sendo, na minha opinião, o melhor smartwatch do mercado no conjunto da obra. Pode existir um concorrente com bateria melhor, outro com recursos mais completos para atividades físicas ou outro com alguma característica exclusiva. No entanto, ninguém conseguiu entregar um pacote mais completo até hoje.
Enquanto a Apple não resolve de verdade o problema da bateria e continua muito conservadora no design e nos aplicativos nativos, sem grandes mudanças de um ano para outro, o Apple Watch Series 6 segue como um “companheiro de saúde” muito certeiro. É notável o excelente trabalho de integração entre o celular e o relógio, o capricho no watchOS e o desempenho impecável tanto no uso dos aplicativos quanto nos dados obtidos pelos sensores.
Para quem já tem um modelo anterior, acredito que o upgrade só valha a pena para usuários de Apple Watch Series 3 ou anterior, que devem se beneficiar da tela maior, do processador mais rápido para aplicativos e dos sensores novos, como o eletrocardiograma e o medidor de saturação de oxigênio no sangue. Do Series 4 para cá, as mudanças foram tão pequenas que é difícil justificar um novo gasto.
É claro que o Apple Watch é um brinquedinho caro. Tão caro (e há tanto tempo) que eu nem enfatizo mais isso em análises de produtos da Apple: quem continua comprando é porque não precisa ficar contando dinheiro. Mas, para quem consegue pagar, é difícil se arrepender depois: o Series 6 tem todas as possibilidades de ajudar a Apple a manter a coroa no mercado de smartwatches.
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