terça-feira, 1 de setembro de 2020

Review Captain Tsubasa: Rise of New Champions – Apite comigo galera! [análise/vídeo] | Tecnoblog

Captain Tsubasa: Rise of New Champions não é exatamente um jogo de futebol. Ele foi feito com o esporte em mente, é vendido como um representante do gênero esportivo, inspirado em um anime que traz o futebol como assunto principal. Apesar de parecer presunçoso afirmar, ele vai além. É sobre acesso, controle e nostalgia.

Lançado para PS4 e Switch, produzido pelo estúdio Tamsoft e publicado pela veterana Bandai Namco, Captain Tsubasa: Rise of New Champions é um game sobre ter controle sobre tudo: a bola, os jogadores, a barra de energia de cada um. E, às vezes, talvez não ter o controle de nada.

Pode parecer que estou inventando muito por aqui, mas prometo que vou explicar meu ponto de vista. Acompanhe!

Se você tem mais de 25 ou 30 anos e o nome “Captain Tsubasa” não te traz nenhuma lembrança, tem um bom motivo. Por aqui, este nome foi localizado como Super Campeões, uma série de anime que foi exibida nos anos 90, na já inexistente Rede Manchete, inspirada por um mangá de mesmo nome.

Mas Captain Tsubasa vai muito além disso. O mangá, criado por Yoichi Takahashi, é um enorme produto cultural no Japão. Não é ao acaso que Ozora “Oliver” Tsubasa seja constantemente associado a eventos esportivos gigantescos que ocorrem por lá, a exemplo da Copa do Mundo de Futebol ou até nos Jogos Olímpicos. Quando o Japão veio jogar a Copa no Brasil, por exemplo, um blusão inspirado no personagem chegou a ser produzido.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

Existem, hoje, dezenas de mangás e um punhado de animes que contam a história de Captain Tsubasa, quase sempre focados na saga de Ozora Tsubasa e sua incansável busca para se tornar um jogador de futebol reconhecido no mundo todo. Além disso, pelo menos 20 jogos foram lançados desde o surgimento do mangá, até os dias de hoje.

O resumo da ópera é que os Super Campeões não são famosos apenas no Brasil, e olha que aqui tivemos apenas três versões do anime exibidas (1994, 2001 e 2018), mas também na sua terra natal, onde são reverenciados como um produto de grande alcance cultural.

Mesmo com a enorme popularidade, até hoje, nenhum jogo de videogame de Captain Tsubasa havia sido lançado fora do Japão, ao menos em inglês.

Ficamos meio que no “quase lá” com a série por aqui durante alguns anos. Em 1993 o jogo Tecmo Cup Football Game, de Mega Drive, seria o primeiro representante de Captain Tsubasa a ser lançado em inglês, mas acabou cancelado. Muitos anos depois, nos celulares, joguinhos mais simples, de destravar personagens e com vários anúncios, chegaram a sair por aqui, mas ainda faltava alguma coisa.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

Com Captain Tsubasa: Rise of New Champions a Bandai Namco marca dois gols: é o primeiro jogo de videogame da saga a ser lançado no ocidente de maneira oficial e também o primeiro a chegar totalmente em português-brasileiro. É uma bela surpresa para quem cresceu e, hoje, quer relembrar as histórias de Tsubasa e seus amigos no nosso idioma.

Mas não é só isso.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions é um jogo que adapta, mais ou menos, a história principal da saga dos Super Campeões. Ele tem um modo de história, que acompanha a jornada de Oliver Tsubasa, desde seu clube escolar, o Nankatsu, até o estrelato mundial. Além disso, há espaço para outras surpresas.

Quem começa a se aventurar no jogo é surpreendido com alguns tutoriais que são até um tanto longuinhos. Mas são necessários. Este é um game que pega o conceito de “jogos de futebol” e torce até não poder mais.

Como cite no início do texto, Captain Tsubasa: Rise of New Champions não é exatamente um game de futebol. Pode ser “sobre”, mas “de”, não.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

As regras em campo seguem parecido com as do esporte real. Há faltas, ainda que raras, impedimentos, cobranças de lateral, pênalti, tiro de meta… Muito aqui tem em comum com o que é visto no campo real e em jogos como FIFA e PES, mas o funcionamento é totalmente diferente.

A jogabilidade de Captain Tsubasa: Rise of New Champions se baseia no conceito de Garra, que é uma barra de energia, mais ou menos o fôlego e animação, que determina como seus jogadores se comportarão em partida. É com a Garra que podemos administrar a posse, tentar marcar um gol ou roubar a bola do adversário.

É aí que está a grande diferença entre este e títulos como FIFA e similares. Enquanto lá a preocupação é com a simulação do mundo real, aqui a simulação é outra: imitar o anime em todos os detalhes possíveis, com o controle na mão de quem está jogando. E isso é feito até com certa qualidade, levando sempre a diversão em primeiro lugar.

Justamente por ter um sistema bem peculiar e diferente, Captain Tsubasa: Rise of New Champions é difícil de se acostumar. Os jogadores são rápidos, as animações exageradas e alguns lances podem chocar os mais puristas – tente roubar a bola dando um literal golpe no adversário e veja-o cair no chão sem qualquer falta ser aplicada.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

O sistema de Garra não é perfeito. Apesar de fazer sentido, ele nem sempre funciona. Falha em especial com o goleiro e, para piorar a situação, existem chutes especiais – já vou chegar neles – que são indefensáveis. No fim das contas, fica aquele gostinho de “sorte” que não combina muito com um jogo que promove a estratégia.

Quem já conhece a obra original não vai se surpreender. Captain Tsubasa: Rise of New Champions tem todos os exageros vistos nos animes que foram exibidos no Brasil. Chutes que mais parecem golpes especiais saídos de Street Fighter, corridas absurdamente irreais, saltos de mais de cinco metros no ar, realizados por um estudante de ensino fundamental apenas com a força de seus pequenos pés e pernas.

E isso é bom. Não só é fiel ao material original, como também faz com que o jogo se diferencie ainda mais dos “concorrentes”!

Porém, ao meso tempo que deve agradar aos nostálgicos e quem está acostumado com a estética exagerada de “animes de luta” que Super Campeões adotou, vai causar muita estranheza a quem não está acostumado. De certa forma, lamenta-se, pois Captain Tsubasa: Rise of New Champions vem para um tipo bem específico de público – ainda que eu defenda que jogos precisam ser o mais abrangentes o possível.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

Ainda assim, vamos ao fator da jogabilidade: criar estes momentos épicos e exagerados não é exatamente fácil. No modo de história é necessário realizar ações-chave dentro de campo para ver alguns dos chutes mais famosos. Dentro das partidas simples, sem relação com o enredo, somente poucos jogadores têm as habilidades especiais.

Tudo, novamente, tem relação também com a Garra. Quanto mais tempo demorar carregando um chute ao gol, combinado à Garra, mais fácil será ativar o lance especial e tentar fazer um gol impressionante, que quase fure a rede atrás das traves.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

Saiba também que é quase impossível marcar um gol sem realizar um chute especial. Na maioria dos lances normais o goleiro vai defender todos os seus ataques. Por isso que Captain Tsubasa: Rise of New Champions exige treino prática e, principalmente, costume com seu estilo de jogabilidade e gênero único.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions não é só a história do menino Oliver, ou Ozora, o nome que preferir você chamar. O jogo tem ainda outros modos que valem a pena dar uma explorada e perder algum tempo extra.

O primeiro deles é o Novo Herói, que te deixa construir um jogador inédito na série e jogar sua própria “carreira ao estrelato”. Esta foi uma escolha bem interessante, pois o enredo principal é um pouco cansativo, em termos de muitas cenas de diálogo e sem grandes surpresas para quem já conhece a história narrada.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

Já as outras modalidades são, basicamente, multiplayer e partidas locais que podem ser jogadas contra outros jogadores ou contra o computador. No início há pouco conteúdo liberado, incluindo aí seleções mundiais, mas Captain Tsubasa: Rise of New Champions também tem um sistema interessante de destravar conteúdo, seja por meio de compras com dinheiro fictício ou cumprindo requisitos ao longo das partidas (a seleção brasileira, por exemplo, é um dos destraváveis!).

O multiplayer ainda tem uma opção bem interessante, que deixa até quatro participantes em uma mesma partida, dois para cada lado entre os dois times presentes na disputa. Captain Tsubasa: Rise of New Champions faz o serviço certinho na hora de entregar conteúdo que foge da mera história principal, e olha que a história em si já é grande e pode ser jogada várias vezes.

Como citei lá em cima, no início do texto, Captain Tsubasa: Rise of New Champions diz muito sobre controle e nostalgia, que já abordei, mas também sobre acesso. Por ser um game que evoca o futebol, ele apresenta o gênero esportivo a todo um novo nicho de jogadores que não consideram os “concorrentes”, como FIFA e PES, amigáveis.

E, quando falo em concorrentes, coloque muitas aspas em sua imaginação. São games com propostas bem diferentes, que têm em comum com Captain Tsubasa: Rise of New Champions apenas o fato de envolverem futebol. Ainda assim, é uma opção divertida e interessante, no fim das contas.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

Perceba que, como apresentei, a marca de Captain Tsubasa tem um apelo imenso ainda nos dias atuais e também atende a um sentimento nostálgico de uma geração passada. Com abrangência para um grande público, ele também significa ser a porta de entrada para uma pessoa que normalmente não jogaria uma partida de FIFA, mas que vai querer acompanhar o que Ozora Tsubasa fez, com o comando em mãos.

Eu mesmo não sou o maior adepto de games tradicionais de futebol, apesar de participar até de algumas ligas, mas me empolguei bastante durante as partidas de Captain Tsubasa: Rise of New Champions e me vi vibrando quando marcava um gol ou desarmava a jogada adversária, com todos aqueles efeitos especiais e exagerados.

Para completar, o fato de estar legendado em português apenas ajuda tudo. Sonhar com uma dublagem seria, talvez, um pouco demais, tendo em vista que nem mesmo um game recente de Dragon Ball, que é ainda mais popular, tenha recebido tratamento com áudio no nosso idioma. Mesmo assim, é um bom trabalho de localização.

Captain Tsubasa: Rise of New Champions / Reprodução / Felipe Vinha

 

Pode parecer uma grande viagem, mas o poder que um jogo bem-lançado, produzido e localizado tem pode mudar o rumo na forma com que uma pessoa consome videogames e se relaciona com a mídia. Neste sentido, Captain Tsubasa: Rise of New Champions sai muito bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário