Depois de quase 18 meses de investigação, o Congresso dos Estados Unidos divulgou, nesta quarta-feira (16), os resultados: a Boeing e a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) foram consideradas responsáveis pelos acidentes com as aeronaves 737 Max que operavam os voos JT610, da Lion Air, e ET302, da Ethiopian Airlines.
O primeiro acidente (JT610) aconteceu perto da Indonésia em 29 de outubro de 2018 e resultou na morte de 189 pessoas. O segundo avião caiu na região da Etiópia em 10 de março de 2019 e causou a morte de 157 pessoas. Foram 346 vidas perdidas em duas tragédias envoltas em circunstâncias parecidas.
Ambos os acidentes envolvem o mesmo modelo de avião (Boeing 737 Max 8), aconteceram minutos após a decolagem e ocorreram em datas relativamente próximas. Esses fatores fizeram os voos com as aeronaves Boeing 737 Max serem suspensos no mundo todo a partir de março de 2019.
De lá para cá, a Boeing vem fazendo modificações sistêmicas e operacionais nas aeronaves para conseguir autorização para a retomada dos voos com a linha 737 Max. Ao mesmo tempo, congressistas democratas dos Estados Unidos vinham trabalhando para identificar os responsáveis pelas tragédias.
A conclusão é a de que os acidentes “não foram resultado de uma falha isolada, erro técnico ou evento mal gerenciado”, mas resultaram de “uma série de suposições técnicas equivocadas dos engenheiros da Boeing, falta de transparência por parte da administração da empresa e supervisão grosseiramente insuficiente da FAA”, diz o relatório.
Entre as suposições equivocadas apontadas no documento estão aspectos relacionados a sistemas críticos das aeronaves, como o MCAS, software cuja principal função é evitar que o avião entre em estol (perca sustentação).
Os congressistas envolvidos na investigação apontam que a Boeing agiu incorretamente ao não documentar o MCAS de forma que os pilotos soubessem lidar com esse sistema e ao não classificá-lo como crítico para a segurança, o que teria levado a FAA a não aplicar uma avaliação mais rigorosa desse software na certificação da aeronave.
Essa postura negligente, por assim dizer, fez a Boeing ocultar dos reguladores que testes internos já demonstravam que se, os pilotos demorassem mais de 10 segundos para reconhecer a ativação indevida do MCAS, as consequências poderiam ser catastróficas, aponta a investigação.
Outro detalhe apontado: o relatório afirma que o alerta que chamaria atenção dos pilotos para problemas nos sensores de prevenção de estol não estavam funcionando corretamente na maioria dos aviões Boeing 737 Max.
De modo resumido, os congressistas concluíram que a Boeing foi imprudente ao “tomar atalhos” para acelerar a certificação da linha 737 Max e, assim, continuar tendo condições de brigar com a rival Airbus, enquanto a FAA também tem uma parcela de culpa por não ter executado procedimentos de validação com o rigor necessário.
Em nota, a Boeing informou que cooperou com as investigações e que “como empresa, aprendemos muitas lições difíceis com os acidentes do voo 610 da Lion Air e do voo 302 da Ethiopian Airlines, e com os erros que cometemos”. “Fizemos mudanças fundamentais em nossa companhia e continuamos a buscar maneiras de melhorar”, diz outro trecho do comunicado.
Já a FAA diz que “tem o compromisso de melhorar permanentemente a segurança na aviação e aguarda com grande expectativa a chance de trabalhar com o comitê [do Congresso] para implementar as melhoras identificadas no relatório”.
Com informações: Ars Technica, Gizmodo.
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