Com famílias endividadas, perda de renda real devido à inflação e alto desemprego, a perspectiva é de uma economia estagnada para 2022
Inflação alta, juros elevados e crescimento baixo ou até mesmo uma retração. Este é o cenário previsto para o Brasil em 2022 por analistas que participaram nesta terça-feira (30) do OhmResearch Global Insights 2022.
Com as famílias em alto nível de endividamento, perda de renda real devido à inflação e alto desemprego, a perspectiva é de uma economia estagnada para 2022, de acordo com Sergio Goldenstein, estrategista da Renascença DTVM, ex-chefe de departamento do Banco Central do Brasil.
Ele não vislumbra qual poderia ser o indutor da economia brasileira para 2022. “O que vai ser o trigger [gatilho] para crescimento do próximo ano? Como o consumo representam 60% do PIB, o que vai incentivar o consumo? Renda, crédito? Todos foram afetados. Está claro que não teremos crescimento [em 2022], muito provável que teremos até queda do PIB”, afirma.
Para Sergio Machado, sócio e gestor da Trópico Investimentos, temos um ambiental fiscal problemático no país e um ano eleitoral desafiante pela frente. Mas, segundo ele, as principais medidas fiscais que impactarão o mercado serão tomadas até o fim de 2021 – como é o caso da PEC dos Precatórios que está em tramitação no Senado. “O que sair dessa PEC vai ser o último mal”, destaca.
Com a flexibilização do teto de gastos que o governo federal quer realizar, Sergio Goldenstein acredita que o Brasil perde pontos em credibilidade em nome de criar uma “solução criativa” para o governo investir R$ 115 bilhões. “O grande tiro no pé são as medidas populistas do ponto de vista fiscal. As perspectivas são sombrias para 2022”, pontua.
A principal solução? O governo federal buscar uma política fiscal mais sólida. “Mas não é isso que tem sido perseguido nos últimos meses. Aí sobra todo o esforço para a política monetária”, lamenta o ex-chefe de departamento do Banco Central.
Enquanto a instabilidade fiscal e política ronda o país, o mercado está na expectativa por uma nova alta da taxa Selic. A última reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) será em 7 e 8 de dezembro.
Ao olhar para 2020, quando a taxa Selic chegou à mínima histórica de 2% ao ano, Sergio Goldenstein critica o movimento tomado pelo Banco Central. Para ele, houve um exagero no corte da Selic, tendo sido subestimado o efeito do câmbio sobre a inflação. Isso levou a uma forte depreciação do real – cerca de 30% ano passado – uma das piores performances entre os países emergentes.
Segundo ele, o BC tem que ter cuidado agora para não desancorar mais as expectativas – e isso não significa dar o que o mercado pede. “O BC vai ter que continuar com o discurso de aperto monetário e chegar a uma política monetária contracionista”, diz Goldenstein.
Para Sergio Machado, sócio e gestor da Trópico Investimentos, o poder de discurso do Banco Central ficou muito fraco, sem capacidade coercitiva sobre o mercado financeiro. Ele defende que o BC recupere o “poder do discurso”, pois é a autoridade técnica necessária em momentos de instabilidade do país.
Com o cenário atual e de curto prazo nada promissor os analistas recomendam aos investidores a boa e velha diversificação. Além de indicarem que o investidor olhe cada vez mais para ativos no exterior, acreditam que a renda fixa estará atrativa no Brasil em 2022.
Com uma grande dúvida sobre a trajetória da inflação, Sergio Machado, da Trópico Investimentos, sugere uma carteira mais conservadora, parte indexada em LFTs (Tesouro Selic) e outra parte em NTNs (Tesouros pré e pós-fixados).
Ele descarta compra de ativos expostos ao dólar hoje. Mas lembra também que, quem quiser se expor à bolsa brasileira deve fazer um stock picking muito mais detalhado do que no ano passado, por exemplo.
Sergio Goldenstein, da Renascença DTVM, afirma que, dentro da recomendação de diversificação, faz sentido o investidor ter uma parcela em renda fixa. “Há oportunidades na renda fixa bastante atrativas, como também tem na bolsa. É preciso fazer um jogo de stock picking. Alocar em bons gestores de ações que sabem fazer seleções de forma adequada”, recomenda.
Goldenstein diz que é importante o investidor ter um olhar atento para ativos fora do Brasil. Mas também alerta sobre as incertezas do cenário global.
“Os ativos globais se viciaram na ‘cocaína’ fornecida pelos bancos centrais de liquidez ilimitada. Mas está chegando o limite, pois a inflação está se mostrando mais permanente. Vamos ver agora como os ativos globais vão reagir à retirada de estímulos [tapering]. É um ambiente menos favorável do que em anos anteriores”, finaliza.
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