Movimento cria esboço do que poderá ser a coalizão bolsonarista na disputa pela reeleição
O presidente Jair Bolsonaro participa, nesta terça-feira (30), de cerimônia de filiação ao Partido Liberal (PL) ‒ sigla do chamado “centrão”, presidida pelo ex-deputado federal Valdemar Costa Neto. O evento sela uma mudança na estratégia do mandatário para as eleições de 2022, com a aposta em alianças com partidos políticos estruturados, ao contrário do discurso antissistema adotado no pleito de 2018.
Acompanhe a cerimônia ao vivo pelo vídeo acima.
A filiação ao PL é mais um capítulo da aproximação entre Bolsonaro e os partidos do chamado “centrão” (que ocorre desde meados de 2020), e traz sinalizações sobre as estratégias de alguns dos principais atores políticos para as próximas eleições.
O evento também põe fim a um período de pouco mais de dois anos em que Bolsonaro esteve sem partido. O presidente deixou o PSL, em novembro de 2019, em meio a uma queda de braço com Luciano Bivar (PE), presidente da legenda. A disputa envolvia a ocupação de posições estratégias no partido e o controle do cofre. Na época, Bolsonaro havia decidido trabalhar na criação do seu próprio partido, Aliança pelo Brasil, que não prosperou por falta de assinaturas para a efetuação do registro.
Análise: Bolsonaro muda estratégia e aposta em estrutura do ‘centrão’ para 2022, mas corre risco de traições
Com as eleições cada vez mais próximas, Bolsonaro mantinha conversas com dirigentes partidários em busca da melhor opção para abrigá-lo. Foram ao menos seis negociações malsucedidas: com Republicanos, PMB, Patriota, PRTB, PTB e PP. Até que o martelo foi finalmente batido com o PL. A sigla é controlada há anos por Valdemar Costa Neto, ex-parlamentar condenado por corrupção no julgamento do escândalo do “mensalão”.
Analistas políticos acreditam que o acerto cria um esboço do que deverá ser a coalizão de Bolsonaro em sua candidatura à reeleição em 2022. A expectativa é que integrem formalmente o bloco importantes legendas do “centrão”, como PP e Republicanos, mas o presidente terá que mostrar serviço (isto é, provar ser competitivo nas pesquisas eleitorais) para evitar traições durante a campanha.
Com a filiação, Bolsonaro tenta consolidar a coalizão que dará suporte à sua candidatura à reeleição e afasta o risco de acordo de uma dessas siglas com potenciais adversários na disputa pelo Palácio do Planalto – especialmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que atualmente lidera as pesquisas.
A aliança com o PL representa uma mudança significativa na estratégia de Bolsonaro em comparação com a campanha vitoriosa em 2018, quando se filiou ao PSL – à época, sigla nanica, com pouca estrutura, recursos reduzidos e baixíssima capilaridade – para concorrer ao Palácio do Planalto e lançou mão de discurso crítico à política tradicional e ao “centrão” a que hoje se alia.
O movimento traz riscos de parcela do bolsonarismo se sentir traído pelo movimento do presidente deve ser considerado, sobretudo após o ingresso de Sergio Moro (Podemos) no páreo. O ex-juiz da Lava Jato conta com prestígio de parcela relevante do eleitorado conservador e pode fazer sombra nos planos de reeleição de Bolsonaro.
A eventual construção de uma coalizão com PL, PP e Republicanos, no entanto, não é garantia de que os partidos e suas estruturas estejam fechados com a candidatura de Bolsonaro na prática.
Especialistas alertam que a adesão vai depender de quão competitiva for entendida a campanha à reeleição do atual presidente. Caso outras candidaturas sejam vistas como favoritas, há riscos de o mandatário repetir a história de Ulysses Guimarães (PMDB), em 1989, e Geraldo Alckmin (PSDB), em 2018.
Além de Bolsonaro, devem acertar filiação ao PL o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e um grupo estimado em 15 deputados federais, sendo a maioria hoje do PSL ou DEM – siglas que acertaram fusão para a criação da União Brasil. A expectativa é que os ministros Onyx Lorenzoni (Trabalho) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) acompanhem o mandatário futuramente.
Diversas figuras políticas marcaram presença na cerimônia desta terça-feira (30). Dentre elas, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Onyx Lorenzoni, Fábio Faria (Comunicações), Paulo Guedes (Economia), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), João Roma (Cidadania), Flávia Arruda (Secretaria de Governo). Também participou o deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos.
O Partido Liberal (PL) conta com uma bancada de 43 deputados federais (terceira maior na Câmara dos Deputados) e 4 senadores (oitava maior no Senado Federal). Nas últimas eleições municipais, a legenda aumentou de 297 para 345 o número de prefeitos, ocupando a sexta posição na lista dos partidos que comandam mais prefeituras.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PL recebe R$ 4,061 milhões por mês do fundo partidário em 2021, totalizando R$ 48,737 milhões no ano, o equivalente a 5,45% do bolo todo. Isso faz do partido o oitavo em dotação de recursos do fundo, com pouco menos da metade do que recebe o primeiro da lista – PSL, com cerca de R$ 104,56 milhões anuais.
O valor do fundo eleitoral ainda não está definido para o próximo pleito, mas, considerando o montante distribuído entre as legendas nas últimas eleições municipais, o PL teria direito a R$ 117.621.670,45 – 58,43% dos valores recebidos pelo PT (R$ 201.297.516,62).
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