Por Thássius Veloso (@thassius)
Uma nova empresa de celular está há um ano tateando o mercado brasileiro. A Realme ainda enfrenta dificuldade para estabelecer sua marca – tem quem confunda com outra chinesa, a Xiaomi. Ainda assim, tem conquistado a clientela ao aliar ficha técnica e bom preço. Por trás do projeto está Marcelo Sato. Numa conversa franca, ele revela os desejos dos brasileiros, conta os próximos passos e responde dúvidas de leitores um tanto atrevidos – a ponto de dar a declaração que estampa o título.
É importante dizer que a Realme passa por franco crescimento internacional. A marca surgiu na China em 2018 e faz parte do conglomerado BBK, que controla outras relevantes empresas, como OnePlus, Oppo e Vivo (não confunda com a operadora de telefonia). Cada marca funciona como um ecossistema próprio e todas competem entre si.
Realme 9i foi lançado nesta terça (22) — Foto: Thássius Veloso/TechTudo
A Realme sozinha vendeu 60 milhões de celulares no ano passado, uma alta de 50% contra 2020. Ela está no top 5 de maiores empresas de smartphone em 21 países, de acordo com o vice-presidente Xu Qi.
O Brasil está na mira da companhia. Hoje em dia a Samsung reina soberana com cerca de metade do mercado. A Motorola costuma aparecer na segunda posição e a Apple em terceiro lugar. Tudo fica mais embolado a partir da quarta posição, antigamente ocupada pela LG, que decidiu se retirar. Sabe quem também está de olho nesta fatia? A Xiaomi. Ontem foi anunciada a chegada do Realme 9i por R$ 2.299.
Nenhum tema foi tabu no papo realizado por chamada de vídeo. A equipe de comunicação da Realme só deixou claro que não abriria os números de vendas no país. Confira a seguir.
Thássius Veloso – Como foi o desempenho da Realme no primeiro ano no Brasil?
Marcelo Sato – Começamos com o pé direito no país. Foi muito acima das nossas expectativas. Nós focamos muito na base da pirâmide para construir a nossa operação. Temos um time fantástico e desenvolvemos todos os pontos de contato com o público. Começou com uma parceria com a Americanas que é muito forte até hoje. Também definimos toda a estratégia de comunicação e de pós-venda.
Lançamos dez smartphones, desde os básicos com a série C, até os modelos com números e os flagships como o GT Master Edition. Também lançamos dispositivos conectados, como fones de ouvido e smartwatches.
Marcelo Sato, gerente da Realme — Foto: Divulgação/Realme
Qual é o panorama do 5G? Há espaço para celulares sem essa tecnologia em 2022?
A Realme aumentou a venda de celulares 5G em 831% contra 121% do restante do mercado. É uma tecnologia muito importante para nós. Temos aparelhos assim desde 2021, como o Realme 7 5G e o Realme 8 5G, que foi nosso produto mais vendido no ano passado. Conseguimos fazer um vínculo da nossa marca com a internet móvel de quinta geração. A questão do custo ainda é algo a se observar nos celulares básicos, e por isso há espaço para modelos com 4G e 4.5G.
Muitos consumidores comentam comigo que queriam celular 5G com preço baixo. Existe aí uma oportunidade?
Eu não enxergava o 5G como um dos principais motivos para compra de um produto. Passou a ser um motivador a partir do burburinho no fim de 2021. É uma tecnologia que está vindo aí. Nós vamos trazer celulares com preço acessível e internet 5G. Precisamos ponderar que os produtos que a gente venderá no país estarão bem posicionados para o segmentos em que atuam. A nossa linha com nome Realme seguido de numeral terá 5G. Os preços ficarão na casa de R$ 2.000. Modelos na faixa de R$ 1.300 a R$ 1.500 não terão este recurso.
Quais são os recursos mais desejados e aqueles que os brasileiros não dão bola?
Muita gente fala que vai usar o celular para tirar foto na piscina. A resistência à água é uma funcionalidade muito comentada, mas que, no frigir dos ovos, não é tão útil. Nós ainda não a trazemos no nosso portfólio por ser um recurso superficial. O brasileiro valoriza muito a performance como um todo. Estou falando de processador, memória RAM e armazenamento.
Bateria entra nessa lista?
Quando a gente fala da série Realme C, focamos muito na experiência do usuário. São duas funcionalidades principais: tela e bateria. Precisa ter um espaço bom para navegar na internet e uma autonomia para um dia inteiro longe da tomada. Câmera também é superimportante.
Realme Watch S tem tela de 1,3 polegadas em IPS LCD — Foto: Thássius Veloso/TechTudo
Os smartphones virão com carregador e fone de ouvido?
Nosso kit básico inclui carregador rápido. Tem que continuar vindo, esse é o nosso posicionamento mundial. Nós também investimos muito em pesquisa e desenvolvimento no campo de energia. Eu sentia falta deste atributo quando tinha um telefone da concorrência. O fone de ouvido com fio não vai na caixa porque hoje em dia todo mundo tem esse componente. Costuma ser um item muito simples.
Os meus seguidores não têm papas na língua. Um deles perguntou se a Realme vai inundar o mercado com celulares ruins e depois sumir do mapa, ou se vai fazer algo que preste. Qual a sua resposta?
A gente não vai inundar o mercado com coisa ruim. O Brasil está na lista de países prioritários para a expansão da Realme, junto a outras cinco nações. Não viemos para brincar. Queremos começar a nossa base e crescer de forma sustentável. Sem dúvida é um projeto de longo prazo.
Quais são as dificuldades de vender no Brasil?
Nós aprendemos a trabalhar no país. O Brasil é muito particular em muitos aspectos, dentre eles o tributário. Foi um ano de grande aprendizado para a empresa. Passamos o panorama do que é o país para a nossa matriz na China. Nossa concorrência é muito acirrada e ainda há uma polarização com poucas marcas. Por isso a concorrência é tão saudável para o consumidor. É um mercado difícil, único. Muitas coisas acontecem aqui e não ocorrem lá fora.
Ex-BBB Camilla de Lucas participa de lançamento do Realme 8 Pro — Foto: Divulgação/Realme
Como funciona a garantia e a assistência técnica?
Fizemos questão de definir um bom pós-venda. Por enquanto estamos no 0800, sem presença física. À medida que crescermos, nós vamos ter uma assistência técnica mais robustecida. Por enquanto o cliente precisa mandar o produto pelo correio. Não fazia sentido abrir um monte de centrais técnicas. Nossos produtos têm um índice de reclamação muito baixo, o que nos deixa mais tranquilos.
Quais recursos contra furtos estão sendo desenvolvidos?
A gente tem a biometria integrada ao sistema Android, com análise facial e de impressão digital. Hoje em dia a gente não tem nada sendo desenvolvido especificamente para o Brasil. Não quero falar da concorrência, mas eu tive meu celular furtado e ainda hackearam o aplicativo do meu banco. No final das contas, eu não ando mais com apps de banco no smartphone.
O brasileiro gosta de pegar no telefone na mão e brincar com ele antes de fechar a compra. Como está a presença da Realme nas lojas?
Nós começamos por aqui com foco no online, canal que cresceu quase 30%. Deve seguir aumentando em 2022. Antecipamos a nossa ida para as lojas físicas a partir do segundo semestre do ano passado. Estamos em quase 170 pontos no país. Precisamos ter presença física mais robusta no Brasil. Estamos avaliando a inauguração de lojas próprias.
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