Analistas e gestores recomendam papéis que podem ter resultados melhores em tempos de volatilidade, como Vale, Itaú, CPFL e PetroRio
O Brasil entra em 2022 com a economia estagnada, inflação, juros e câmbio em alta, e incertezas na seara fiscal. O ano reserva ainda mais um elemento de volatilidade: a eleição para presidente. O mercado de capitais costuma reagir negativamente a fatores de risco, como mostrou o desempenho do Ibovespa no segundo semestre de 2021, mas isso não quer dizer que não existam oportunidades na Bolsa.
O InfoMoney conversou com analistas e gestores para saber quais as ações mais indicadas para investir em 2022, levando em conta principalmente o processo eleitoral. De forma geral, os setores mais citados são os menos expostos às oscilações da economia doméstica, os que conseguem superar condições econômicas adversas e os que sofrem menos influência da situação política.
Nesse sentido, os segmentos mais lembrados foram os de energia elétrica, de commodities e financeiro. A avaliação é que as ações de empresas brasileiras estão “baratas” e este pode ser um bom momento para encontrar papéis com potencial de valorização a preços módicos.
“Será um ano volátil, com muita atenção dada às pesquisas”, disse Felipe Taylor, sócio da gestora MAG Investimentos responsável pelos fundos de renda variável. “Mas volátil não quer dizer que vá ser um ano ruim para a Bolsa”, acrescentou. Confira algumas das ações mais citadas pelos especialistas:
Fontes: Felipe Taylor (MAG), Felipe Vella (Ativa), Leandro Saliba (AF Invest), Flávio Aragão (051 Capital), relatórios de corretoras, Economatica
As empresas com parte da receita atrelada ao dólar e as companhias que podem ser beneficiadas pela subida dos juros, como as instituições financeiras, também receberam destaque nas carteiras recomendadas para o mês de janeiro de 2022 por dez corretoras. O InfoMoney divulga a compilação dos papéis mais citados todo início de mês. Normalmente, são cinco indicações, mas o número pode ser maior, se houver empate – como ocorreu agora. Confira:
Fontes: Economatica e carteiras recomendadas de ações de Ágora, Ativa, BB Investimentos, BTG Pactual, Elite, Genial, Guide, Órama, Santander Corretora e XP Investimentos
Mas quais são os diferenciais de cada uma das ações – e dos setores – mais indicados para investir em 2022? Confira as análises abaixo:
O setor de energia elétrica é considerado uma boa opção porque tem uma demanda “inelástica”. Ou seja, o consumo não depende tanto do desejo ou das condições econômicas, mas da necessidade. Se o consumidor não paga a conta, a luz é cortada. Além disso, é uma atividade que repassa aumentos aos usuários.
É um setor resiliente, que tem empresas com potencial de crescimento e proteção grande contra a inflação
Leandro Saliba, responsável pela área de Renda Variável da gestora AF Invest
Com a inflação em alta, empresas com capacidade de repassar custos ao varejo têm mais chances de manter suas margens.
Nesse segmento, destaque para a CPFL (CPFE3), citada por Saliba e Felipe Vella, analista de renda variável da corretora Ativa Investimentos. “A CPFL distribui bastante dividendos”, observou Vella. Segundo ele, trata-se de um ativo “perene” e “defensivo”, características indicadas para 2022.
Outras companhias do ramo foram recomendadas individualmente pelos profissionais, como Alupar (ALUP3, ALUP4) e Neoenergia (NEOE3) por Saliba; e Copel (CPLE3) e Transmissão Paulista (TRPL3, TRPL4) por Vella. Mais uma razão para investir em empresas de energia elétrica é a dissipação, pelo menos por ora, da possibilidade de uma crise hídrica.
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O segmento de commodities tem como vantagens as cotações em dólar, o que pode representar ganhos em caso de valorização da moeda americana; e a ampla exposição ao mercado externo, o que minimiza eventuais recuos da demanda interna. Com a retomada das atividades, na medida em que a pandemia de Covid-19 arrefece, a tendência é um aumento da procura global por produtos básicos.
Houve um gargalo de oferta bastante grande pelo mundo, então há uma demanda represada por commodities. Demanda que continuará presente em 2022
Felipe Vella, analista de renda variável da Ativa Investimentos
Vella e Taylor sugerem a mineradora Vale (VALE3) e a petrolífera PetroRio (PRIO3) como boas opções de investimentos nesta área. Taylor ressalta que as ações da primeira estão com “preço atraente” e que a última pode se beneficiar de avanços nas cotações do petróleo, um dos fatores que pressionam a inflação. “[A PetroRio] pode ser o hedge da carteira em caso de deterioração do cenário inflacionário”, observou.
Embora a mesma lógica se aplique à Petrobras (PETR3, PETR4), os analistas estão menos propensos a recomendar investimentos nos papéis da estatal em face do risco político. “Mas eu não deixaria de ter [ações] de estatais por expectativa de volatilidade política, pois os preços já estão baixos o bastante”, ressaltou Taylor.
Ainda nessa seara, Vella afirma que ações de empresas de commodities agropecuárias podem também ser boas opções. Como exemplos, ele citou Boa Safra Sementes (SOJA3), BRF (BRFS3), dona das marcas Sadia e Perdigão, e JBS Friboi (JBSS3).
Embora economia estagnada não seja boa notícia para ninguém, o setor financeiro pode se beneficiar dos juros em alta. O Itaú (ITUB3, ITUB4) é considerado um banco “resiliente”, que já conseguiu apresentar bons resultados em momentos de crise e o preço das ações está favorável para compra. Taylor acrescenta que a cisão entre o Itaú e a XP (XPBR31) é um elemento positivo, pois ficará mais claro saber onde o banco está gerando valor.
Vella acrescenta que numa “época defensiva faz sentido” também investir no ramo de seguros. Ele recomenda principalmente BB Seguridade (BBSE3), mas ainda SulAmérica (SULA11) e Porto Seguro (PSSA3).
Outro segmento com potencial de crescimento, na avaliação de dois analistas, é o de moradias populares, com destaque para construtoras que atuam no Casa Verde e Amarela, como foi rebatizado o Minha Casa, Minha Vida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). O programa usa recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e tem juros fixos – portanto, o aumento da Selic não interfere nos financiamentos.
É grande o déficit habitacional no Brasil e este setor é essencial para qualquer governo
Flávio Aragão, sócio da gestora 051 Capital
“São mais de 6 milhões de famílias, 600 mil a 700 mil novas por ano, e a indústria não consegue construir 400 mil unidades anuais”, acrescentou Aragão. Ou seja, quem quer que seja o eleito, habitação tem que ser uma prioridade.
Vella destaca que esta atividade sofreu em 2021 com o aumento dos preços dos materiais de construção, o que fez com que construtoras pequenas saíssem do mercado, abrindo espaço para as grandes, como a MRV (MRVE3), a maior do segmento. Além de ter conseguido reajustar os preços dos imóveis, segundo ele, a companhia opera nos Estados Unidos por meio da AHS, o que lhe garante uma fatia de faturamento em dólar.
Na mesma linha, Aragão aposta na Tenda (TEND3), a segunda maior do segmento. De acordo com ele, a empresa também conseguiu aumentar os preços dos imóveis a partir do segundo semestre de 2021, minimizando o impacto do encarecimento dos materiais, e vai colocar no mercado “um novo tipo de imóvel, mais barato e com maior margem”. São “casas produzidas em fábrica”, o que requer “tempo, mão de obra e custos absurdamente menores”. Trata-se de um projeto de casas de madeira pré-moldadas que a companhia lançou em 2021.
Aragão vê com bons olhos ainda companhias ligados ao setor de veículos, especialmente a metalúrgica Tupy (TUPY3) e a fabricante de reboques e semirreboques Randon (RAPT3, RAPT4). No primeiro caso, ele diz que a indústria tem 80% de seu faturamento em dólar, mas custos em reais.
“A Tupy foi prejudicada em 2021 pelos gargalos de logística que atingiram o setor automotivo. Há uma demanda reprimida de dois anos [da pandemia] e estamos otimistas com 2022. Creio que a empresa vai surfar com força”, declarou.
No caso da Randon, Aragão ressalta que hoje 60% da receita da empresa vem de autopeças, e com “a frota [de caminhões] mais antiga que o Brasil já teve”, há grande demanda por itens de reposição. “O governo vai ter que criar alguma linha para renovar a frota”, observou, lembrando que os caminhoneiros têm força para pressionar.
Vella avalia que ao longo de 2022 chegará ao fim o ciclo de alta de juros no Brasil, coincidindo com o início de um período de aumento de taxas nos Estados Unidos. Nesse sentido, ele sugere que o investidor pode montar uma carteira com mais risco, representado por companhias de varejo. Ele indica principalmente Magazine Luiza (MGLU3), mas também Lojas Renner (LREN3) e Via Varejo (VIIA3).
Taylor, no entanto, vai no sentido contrário. Ele recomenda evitar empresas que possam ter dificuldades em repassar a inflação ao consumidor, tendo que reduzir margens ou aumentar preços e ver as vendas caírem. Pelo menos no primeiro semestre, o sócio da MAG considera as varejistas “complicadas”.
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Vários analistas avaliam que o processo eleitoral já está “precificado” nos valores das ações, levando em consideração o cenário das pesquisa atuais, de disputa entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com vantagem para o último – e sem um terceiro candidato com potencial para mudar o quadro.
“Os investidores já têm conhecimento da volatilidade nas eleições”, comentou Bruno Athos, estrategista de Renda Variável da Ável Investimentos, agente autônomo da XP.
Em análise sobre o que esperar para 2022, a XP avalia que o ano será de volatilidade maior do que a normal, mas que os preços das ações não parecem seguir uma regra única em períodos eleitorais. A corretora reforça que a Bolsa está barata, que momentos de turbulência costumam ser bons para investir, e diz ainda que o prêmio de risco do mercado de ações segue favorável, mesmo com o aumento dos juros.
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