terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Renda fixa vai brilhar novamente? Especialistas apontam as melhores opções para se proteger e lucrar em 2022 - InfoMoney

Entre as sugestões estão títulos públicos pós-fixados, títulos de inflação com isenção tributária, além de fundos de renda fixa e de crédito

Depois de passar por uma verdadeira montanha-russa de retornos, que foram de minguados a atrativos em um curto espaço de tempo, a renda fixa voltou a brilhar em 2021 e retomou o “status” de investimento com boa rentabilidade e segurança. Para 2022, as perspectivas não são diferentes. Ativos de renda fixa devem reluzir – e não é pouco.

Dois fatores corroboram esse cenário. Com a chegada do ano eleitoral, a volatilidade deve crescer e a busca deve ser por segurança. Somado a isso, o movimento de subida da taxa básica de juros deve favorecer a procura por papéis de menor risco – especialmente os que ofereçam retornos reais acima de 5% ao ano e os que rendam bem próximo da Selic.

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Esse movimento deve começar cedo. Já na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em fevereiro, a expectativa é que a taxa básica de juros alcance 10,75% ao ano, dado o discurso da autoridade monetária na ata da última reunião de 2021.

Mas os ajustes não devem parar por aí. Os juros devem subir ainda mais, encerrando 2022 em 11,50% ao ano, segundo as projeções de analistas que constam no Relatório Focus, do Banco Central, divulgado hoje.

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Em meio a um cenário de Selic elevada, forte volatilidade e chegada das eleições, cautela deve ser o nome do jogo. Nesse sentido, entre as recomendações de especialistas estão títulos atrelados à taxa básica de juros, como é o caso do Tesouro Selic.

A preferência é por papéis de prazo mais curto, como o Tesouro Selic 2024. Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, diz que ainda não é o ano de se posicionar em ativos de longo prazo.

Os candidatos têm todo o incentivo para tocar em temas relativos ao cenário fiscal. Daqui a pouco, esse título [Tesouro Selic] vai pagar juros de dois dígitos e entregar retornos de cerca de 1% ao mês. Logo, não há razão para correr mais risco

Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research

A mesma recomendação vale para papéis prefixados e atrelados à inflação, em que a sugestão é optar por prazos menores. Há opções ainda em crédito bancário e corporativo, especialmente em ativos que possuem isenção tributária, como debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs), além de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs).

Além disso, fundos de crédito voltam a ganhar maior atenção, embora os retornos não devam seguir tão altos quanto em 2020, ponderam especialistas.

Dentro dos títulos públicos, houve quem aumentou a mão em renda fixa pós-fixada atrelada à Selic na virada do ano. Em relatório, as analistas Betina Roxo e Paula Zogbi, da corretora Rico, destacaram que um dos motivos é o fato desse título sofrer menos com oscilações de preço antes do vencimento – diferentemente do que ocorre com prefixados e papéis atrelados à inflação, que apresentam maior volatilidade e chance de perda para quem vende antes do prazo.

Isso ocorre porque ambos são impactados pela marcação a mercado. Na prática: a taxa de juros oferecida por um título de renda fixa tem uma relação inversa com o seu valor de negociação no mercado. Quando os retornos sobem, como ocorreu ao longo do ano passado, os papéis com juros menores que já estavam na carteira dos investidores perdem valor, porque seu preço diminui. Mas o contrário também é verdadeiro.

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Embora a marcação a mercado interfira no preço da venda antes do vencimento, papéis prefixados e de inflação continuam entre as recomendações de analistas.

Em meio a um cenário mais incerto, títulos de curto prazo como o Tesouro Prefixado 2024 e o Tesouro IPCA+ 2026 são os preferidos. Segundo a equipe de análise da XP, no caso dos prefixados, a escolha por esse tipo de produto está no fato de que a percepção de risco no País pode ser menor no futuro e isso pode levar a uma diminuição das taxas oferecidas por esses títulos.

Nesse caso, explicam os especialistas da XP, a queda nos retornos oferecidos por esses papéis levaria a um aumento dos preços. Com isso, os prefixados poderiam se valorizar antes do vencimento, o que poderia representar uma possibilidade de ganho de capital – ainda que isso não seja garantido.

Outra opção está nos títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+), que podem se beneficiar porque oferecem uma proteção contra a inflação para investidores que mantêm os papéis até o vencimento, observam os analistas da casa.

Há oportunidades também dentro do crédito bancário, como em Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCAs), sendo que as duas últimas são beneficiadas pela isenção de Imposto de Renda.

“Os bancos estão oferecendo taxas bem atrativas. A preferência é por papéis pós-fixados atrelado ao CDI [Certificado de Depósito Interbancário] de no máximo dois anos, para evitar correr mais risco”, pondera Marília, da Nord Research, para quem a taxa mínima de retorno oferecida deve ser de 105% da taxa do CDI. “Já há várias opções com esse nível de retorno”, diz.

Em um levantamento feito no fim de dezembro com base em informações da plataforma Yubb, que compila dados de investimentos, era possível encontrar um CDB do banco BMG que oferecia retorno de 110% do CDI, rating A e vencimento em um ano, ou uma LCA do Banco Daycoval, com rating AA, que oferecia 107% do CDI e tinha vencimento em 2023.

Títulos de crédito corporativo não ficam para trás. Ciro Matuo, head de renda fixa na área de research do Itaú BBA, prefere os papéis atrelados à inflação e com isenção tributária, como é o caso de debêntures incentivadas, CRIs e CRAs.

Ele defende que o maior atrativo desse tipo de papel é que ter parte do retorno indexada à inflação, além de outra parte “travada” assim que o investidor adquire o título. “A vantagem é que a parcela atrelada ao IPCA também é isenta de imposto”, destaca.

A seleção dos ativos passa por papéis de empresas mais resilientes, como de transmissão elétrica, além de companhias com boa parte da receita atrelada ao dólar, como é o caso de exportadoras, e de negócios voltados para serviços logísticos de transporte ferroviário.

Com a elevação da Selic e o aumento das despesas financeiras das empresas – que pode ter impacto sobre o lucro – Matuo afirma que tem buscado mais do que nunca companhias com baixo endividamento, ficando ainda mais atento ao risco de crédito dos papéis. A preferência é por companhias com classificação AAA (a mais alta) até AA-, que também têm risco de crédito pequeno.

Avaliamos o rating, bem como as perspectivas do setor e a liquidez do mercado secundário. Também preferimos companhias que apresentam reports [resultados] trimestrais para conseguir fazer o acompanhamento

Ciro Matuo, head de renda fixa do research do Itaú BBA

Na carteira recomendada de janeiro do banco, há quatro debêntures incentivadas: uma da MRS Logística (MRSL27), uma da Light (LIGHD2) e duas da Rumo (RUMOA2 e RUMOB6). Todas têm vencimento entre 2025 e 2036 e oferecem taxas reais entre 5,2% e 5,8% ao ano.

Entre os papéis selecionados, a relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) está entre 0,7 vezes e 2,8 vezes. Esse indicador costuma mostrar a geração de caixa que pode ser utilizada para pagar dívidas. Quanto menor, melhor.

O portfólio sugerido conta ainda com um CRA da Raízen (CRA019000GT), com vencimento em 2026 e juros reais de 5,9% ao ano.

Depois de um ano intenso de emissões de ativos de crédito corporativo, como debêntures, CRIs e CRAs, a expectativa é de que neste ano a janela de ofertas primárias de ativos de crédito corporativo fique um pouco mais afunilada.

“Boa parte das empresas anteciparam a captação para o fim de 2021 para não correr o risco das eleições. O que pode acontecer agora é um afunilamento ao longo dos quatro primeiros meses de 2022”, avalia Daniel Pegorini, CEO da Valora Investimentos.

Nesse caso, depois de ver uma forte queda nos spreads oferecidos por esses títulos ao longo do ano, o executivo diz que é possível que as companhias que precisem captar de maneira emergencial neste ano passem a oferecer spreads mais “atrativos” – maiores do que antes.

Isso obviamente deverá ter impacto nos fundos de crédito. Boa parte do bom rendimento desses fundos ao longo de 2021 veio da queda dos spreads desde o início do ano passado. Agora, é possível que o desempenho não seja o mesmo, ponderam especialistas.

Se olhar a lâmina dos últimos 12 meses, vai ver que a rentabilidade veio alta porque os spreads estavam mais elevados e foram fechando [caindo]. O melhor agora é olhar o desempenho dos últimos quatro meses

Daniel Pegorini, CEO da Valora Investimentos

Outro ponto que deve ser levado em conta, observa o gestor, é que o movimento que fez os fundos de crédito privado com prazos de resgate de curto (D+0 ou D+1) apresentarem retornos melhores do que os de prazo mais longo (D+30 em diante) também não deve seguir nos próximos meses.

“Numa situação normal, um fundo D+0, ou D+1 tem muita liquidez, mas tem menor eficiência, porque 80%, por exemplo, está alocado em caixa. Já nos de prazo mais longo, isso é algo por volta de 25%, o que permite obter retornos mais expressivos”, avalia Pegorini.

Cal Constantino, head de renda fixa da Santander Asset, por outro lado, acredita que os fundos de crédito privado devem seguir vendo a queda nos spreads em 2022. “Vai continuar entrando dinheiro e a demanda vai seguir elevada no ano que vem. Logo, eles [spreads] devem seguir fechando, mas ainda vão permanecer em um patamar acima de 2019 [pré-pandemia], ou seja, de retorno razoável”, avalia.

Em meio a um cenário mais incerto, com a chegada das eleições e a expectativa de que os bancos centrais ao redor do mundo, especialmente o dos Estados Unidos, sigam retirando estímulos monetários, a situação exige cautela.

Temos tantos ruídos que é bom manter o risco [na carteira] bem baixo e estar sempre atento às oportunidades

Cal Constantino, head de renda fixa da Santander Asset

Para isso, as maiores apostas de Constantino para 2022 estão em fundos de renda fixa de gestão ativa ou em fundos de crédito. Na hora de escolher o indexador, como o CDI ou a inflação, ele diz que para o curto prazo a preferência deve ser por fundos que possuem a remuneração ligada ao CDI.

Isso porque a relação de risco e retorno nesses casos pode ser mais favorável, devido à alta da Selic. As projeções da asset apontam que a taxa básica de juros deve terminar 2022 em 11,75% ao ano.

Já para quem consegue tolerar prazos de investimento maiores, diz Constantino, a opção deveria ser por fundos de renda fixa com a remuneração atrelada à inflação, que garantem maior proteção ao investidor, já que no médio e longo prazos os juros devem voltar para patamares mais baixos.

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