Escassez de motoristas de caminhões pesados que transportam combustíveis pelo país é apontada como um dos motivos para crise pós-Brexit
A escassez de combustíveis no Reino Unido já vem causando temor em relação à possível paralisia de serviços essenciais, como saúde e educação. Há apelos para que os profissionais dessas áreas tenham prioridade nos abastecimentos de seus carros para não ficarem longe dos postos de trabalho.
A Associação de Varejistas de Petróleo do país estimou, nesta segunda-feira (27), que ao menos 90% dos postos de combustíveis do Reino Unido já estavam secos.
A falta de combustíveis já causa pânico e longa filas nos postos há dias. Moradores do país têm feito vigílias nos locais de venda, mas têm saído deles com o tanque dos carros sem nenhuma gota de gasolina.
A crise que atinge os britânicos remonta ao déficit de motoristas de caminhões pesados —um cálculo do governo estima que o país necessitaria de até 100 mil profissionais dessa área.
Com um número de motoristas bem abaixo do necessário, o fornecimento de combustível e mercadorias foi drasticamente afetado. Imagens de supermercados lotados de clientes, que têm feito uma caçada por produtos fundamentais nas refeições, também têm sido a tônica da crise que atinge em cheio a administração do primeiro-ministro Boris Johnson.
Além dos percalços enfrentados pela população como um todo, a crise já compromete os serviços essenciais, uma vez que é cada maior a possibilidade de os profissionais dessas áreas não conseguirem chegar a locais como hospitais, escolas e nas redes de assistência social, por exemplo.
Chaand Nagpaul, presidente da Associação Médica Britânica, disse à imprensa local que exigiu do governo apoio aos profissionais essenciais, para que eles consigam ter combustível em seus veículos durante a crise.
“Na medida em que as bombas secam, há um risco real de que os funcionários do NHS [o equivalente ao SUS] não sejam capazes de fazer seu trabalho, e fornecer serviços vitais e cuidados às pessoas que precisam urgentemente”, afirmou Nagpaul, em comunicado divulgado nesta segunda.
Patrick Roach, secretário-geral do sindicato dos professores, também disse que a escassez contínua de combustível pode causar “sérias dificuldades para a oferta de educação”.
“Para muitos professores, o uso do transporte público simplesmente não é uma opção”, disse ele, também por meio de um comunicado, na segunda.
“O governo deve considerar urgentemente tornar os professores um grupo prioritário para o acesso ao abastecimento de gasolina e diesel disponíveis localmente. Sem essa intervenção, muitos docentes lutarão para chegar aos seus locais de trabalho a tempo”, complementou.
No entanto, nem todos estão convencidos de que reservar combustível para certas categorias é uma boa ideia.
Joe Armitage, analista-chefe de política britânica, disse que o governo precisava garantir que as pessoas possam comprar o combustível necessário, “mas sem limites draconianos ou reservando postos de combustível específicos para trabalhadores-chave”.
“Isso cria mais complexidade e, muitas vezes, você tem apenas um membro do pessoal em cada posto de gasolina —não acho que a praticidade seja viável para isso”, disse ele, à CNBC, nesta terça (28).
Apesar da luta dos motoristas para acessar o gás, ministros do governo têm insistido que o Reino Unido tem fortes suprimentos de combustível e instou os consumidores a comprá-lo normalmente.
Mas, na segunda, o Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial do Reino Unido confirmou que um número limitado de motoristas de petroleiros militares seria utilizado para ajudar a estabilizar a cadeia de suprimentos.
“Embora a indústria de combustíveis espere que a demanda volte aos seus níveis normais nos próximos dias, é certo que tomemos essa medida sensata e preventiva”, disse o ministro dos Negócios Kwasi Kwarteng em um comunicado.
“Se necessário, a implantação de militares fornecerá à cadeia de suprimentos capacidade adicional como medida temporária para ajudar a aliviar as pressões causadas por picos na demanda localizada por combustível.”
O governo também anunciou, na segunda, que os motoristas com licenças que os autorizam a transportar mercadorias perigosas como combustível poderão estendê-las até janeiro, se expirarem antes do final do ano.
Em uma pesquisa de junho realizada pela Associação de Transporte Rodoviário do Reino Unido, o Brexit foi apontado como a maior causa da escassez de motoristas por mais de 600 participantes, com 58% dos entrevistados citando a saída da Grã-Bretanha da UE como uma razão para os números esgotados.
Já um relatório de maio do “Thinktank Driver Require” disse que o setor “dependia fortemente dos motoristas da UE para evitar uma crise de oferta no caso de um rápido aumento da demanda”, e afirmou que o Brexit havia “alienado os trabalhadores da UE”.
O Brexit, porém, não é a única causa da crise. A pandemia Covid-19 levou muitos trabalhadores estrangeiros a deixar o Reino Unido, muitos dos quais não retornaram. As mudanças nas regulamentações trabalhistas também assumiram parte da culpa por exacerbar a escassez de profissionais da área.
(Com informações de agências)
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