Tesouro IPCA + com vencimento em 2055 chega a oferecer retornos de 5,09% ao ano nesta quarta-feira
SÃO PAULO – Depois de um dia de maior alívio nos mercados mundiais, a sessão desta quarta-feira (6) é marcada pela volta da aversão ao risco. Na cena externa, os temores de que a inflação seja mais persistente ao redor do mundo ganham força juntamente com o avanço da crise energética na Europa e com a aproximação da retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos, que deve ocorrer em novembro.
A cena local é de incertezas na frente fiscal, com discussões em torno do Auxílio Brasil, novo texto da reforma tributária e acerca de propostas para baratear o preço dos combustíveis. Aliado a isso, investidores repercutem ainda mais um dado de atividade bem abaixo do esperado pelo mercado: o volume de vendas no comércio varejista em agosto.
O reflexo do mau humor externo e das incertezas no cenário interno podem ser vistos também no mercado de títulos públicos, que opera com alta nas taxas nesta quarta-feira.
O destaque está nos prêmios oferecidos pelos papéis atrelados à inflação, que chegam a oferecer retornos de até 5,09%, na primeira atualização desta manhã, como é o caso do Tesouro IPCA+ com vencimento em 2055 e pagamento de juros semestrais.
Esse é o maior prêmio já entregue por esse título em 2021 – ontem, o mesmo papel pagava um juro de 5,02%. O Tesouro IPCA+ com vencimento em 2055 passou a ser negociado em fevereiro de 2020 e, no ano passado, o maior retorno que chegou a oferecer foi de 5,17% ao ano, em março.
No mesmo horário, o juro real oferecido pelo Tesouro IPCA+ com vencimento em 2040 e pagamento de juros semestrais era de 5,03%, contra 4,96% na sessão anterior. Esse foi o maior percentual já pago por esse título desde que ele passou a ser oferecido, em fevereiro de 2020.
Já entre os papéis prefixados, a remuneração do título com vencimento em 2026, por exemplo, era de 10,57% ao ano, na primeira atualização do dia, contra 10,49% na sessão de terça-feira (5).
O juro pago pelo título prefixado com vencimento em 2031, por sua vez, era de 11,15%, acima dos 11,07% registrados um dia antes.
Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na manhã desta quarta-feira (6):
O destaque da agenda econômica local está no volume de vendas do comércio varejista, que recuou 3,1% em agosto na comparação com o mês anterior. As informações foram apresentadas nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa é a primeira queda após quatro meses positivos.
No ano, o varejo acumula alta de 5,1%. Nos últimos doze meses, o crescimento é de 5,0%. Já na comparação com agosto de 2020, o comércio varejista teve queda 4,1%, depois de cinco taxas positivas consecutivas.
Segundo consenso Refinitiv, a expectativa era de alta de 0,7% das vendas em agosto na comparação com julho e alta de 2% frente agosto de 2020.
Também hoje foi divulgado o dado referente ao Índice Geral de Preços (IGP-DI). Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o indicador caiu 0,55% em setembro, desacelerando em relação a agosto.
A queda de preço das commodities no período, com destaque para o minério de ferro, contribuiu com esse desempenho. No entanto, o índice acumula alta de 15,12% no ano e 23,43% em 12 meses.
Na seara política, a novidade está no novo texto da reforma tributária. Ontem (5), o relator Roberto Rocha (PSDB-MA) apresentou uma proposta mais abrangente do que as anteriores.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 110 representa uma ampla reforma de impostos que incidem sobre o consumo, com a unificação de tributos federais, estaduais e municipais. O relator afirma que as alíquotas serão definidas por lei complementar, de forma a assegurar a autonomia dos estados.
“Cada estado terá autonomia para definir suas alíquotas”, afirmou Rocha em evento com Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, e Paulo Guedes, ministro da Economia.
As discussões em torno do preço dos combustíveis também seguem a todo vapor. Nesta terça-feira, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, apresentou uma proposta para tentar reduzir o impacto para o consumidor final dos aumentos nos preços dos combustíveis, a partir de uma mudança na forma de tributação do ICMS sobre o insumo.
A expectativa do presidente da Câmara é de que a proposta seja votada já na próxima terça-feira (13).
Segundo Lira, a mudança no cálculo vai considerar a média dos preços dos combustíveis nos últimos dois anos. Cada estado aplicaria a sua alíquota de ICMS sobre esse preço médio.
Em seus cálculos, a medida poderia baratear o preço da gasolina em até 8%, e do álcool e do diesel, em 7% e 3,7%, respectivamente.
Também na véspera (5), o presidente Jair Bolsonaro sancionou com vetos o projeto de lei que autoriza o governo a usar a reforma do Imposto de Renda como fonte de recursos para compensar a criação do Auxílio Brasil, que deve substituir o Bolsa Família.
A lei faz alterações na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2021 (LDO 2021), com o objetivo de viabilizar o Auxílio Brasil. Os ajustes valerão apenas para este exercício fiscal.
Além disso, a defesa do ministro da Economia, Paulo Guedes, informou ontem que irá protocolar junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) petições esclarecendo que o chefe da pasta não atuou de forma que caracterizasse conflito de interesses e que suas atividades foram lícitas e de acordo com código de conduta da alta administração federal.
Enquanto isso no radar internacional, os índices futuros americanos e as bolsas europeias têm um recuo expressivo nesta quarta-feira (6), após reverterem perdas na véspera.
Nos Estados Unidos, o destaque está na divulgação dos dados de emprego do setor privado. Segundo pesquisa com ajustes sazonais do Automatic Data Processing (ADP, na sigla em inglês), o setor criou 568 mil empregos em setembro.
O número veio bem acima da expectativa de analistas consultados pelo Wall Street Journal, que previam criação de 425 mil postos de trabalho no último mês. Por outro lado, a ADP revisou ligeiramente para baixo sua estimativa de geração de empregos em agosto, de 374 mil para 340 mil.
A pesquisa da ADP é considerada uma prévia do relatório de emprego (payroll) dos EUA, que inclui dados do setor público e que será divulgado na sexta-feira (8).
Também nos Estados Unidos, o rendimento dos títulos do Tesouro americano tiveram alta acentuada ontem, atingindo brevemente 1,56%, um recorde em três meses e meio. Temores sobre inflação continuam a pesar sobre os mercados globais.
Os mercados asiáticos registraram baixa em sua maioria com o aumento do mau humor na sessão com o avanço do rendimento dos títulos dos EUA, em meio a preocupações com a crise energética.
Já na Europa, a Comissão Europeia defendeu, como resposta à crise de energia, que os Estados-membros da União Europeia (UE) devem aliviar temporariamente impostos às famílias e financiar pequenas empresas, anunciando ainda uma reforma no mercado de gás.
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