Vale perde a liderança isolada após 17 meses seguidos. Carteira de outubro também registra saída de BTG Pactual e entrada de Itaú Unibanco
SÃO PAULO – A turbulência vista no mercado financeiro em setembro exigiu certo sangue frio de quem investe em Bolsa. A expectativa é de que a forte oscilação de preços não alivie e siga intensa no curto prazo.
Não é à toa que algumas casas vêm revisando o cenário para o desempenho do Ibovespa, que é o principal índica da Bolsa brasileira, neste ano. Na avaliação dos analistas da XP, por exemplo, a deterioração dos preços das commodities e o aumento das taxas de juros fizeram a casa revisar, na última sexta-feira (1), o preço-alvo para o índice em 2021, de 135 mil para 130 mil.
Em relatório, os analistas da XP pontuaram que as projeções de crescimento para 2022 estão menores, além do que o país enfrenta uma crise hídrica, a inflação segue pressionada e há eleições a caminho. Isso sem contar na crise energética vivida na China e na possibilidade de retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos ainda neste ano.
Com o cenário mais desafiador no curto prazo, levantamento feito pelo InfoMoney com as recomendações de ações feitas por dez corretoras para outubro mostrou mudanças significativas nas carteiras.
Após 17 meses consecutivos na liderança isolada, as ações da Vale (VALE3) passaram a dividir o posto de primeiro lugar entre as recomendações com os papéis da Rede D’Or (RDOR3), na passagem de setembro para outubro.
Também foi o primeiro mês desde abril de 2021 que os papéis da Vale não receberam nove recomendações, mas seis indicações, assim como as ações da Rede D’Or.
A carteira de outubro trouxe ainda mais algumas mudanças: a saída dos papéis do BTG Pactual (BPAC11) e a entrada das ações preferenciais do Itaú Unibanco (ITUB4), que receberam cinco recomendações.
Completam ainda o portfólio indicado, os papéis da Weg (WEGE3) e da B3 (B3SA3), com cinco e quatro indicações cada.
A carteira do InfoMoney é divulgada no início de cada mês e seleciona os cinco nomes mais citados pelas corretoras consultadas. O número de indicações pode ser maior, se houver empate.
Confira a seguir as ações mais indicadas para outubro, a quantidade de recomendações e o desempenho de cada papel em setembro, no ano e em 12 meses:
*Indicações compiladas das carteiras de ações de Ágora, Ativa, BB Investimentos, BTG Pactual, Elite, Genial, Guide, Órama, Santander Corretora e XP Investimentos.
Fonte: Economatica
Diante de um cenário em que a Bolsa deve seguir balançando, alguns dos papéis sugeridos nas carteiras podem ter uma função ainda mais importante na hora de proteger o portfólio.
Allan Pedroso, sócio e fundador da casa de análise Inside Research, destaca que as ações da Weg (WEGE3) e da Vale Weg (WEGE3), por exemplo, tem boa parte da receita dolarizada.
Segundo Pedroso, para quem está olhando toda essa instabilidade, com a chegada das eleições e os debates em torno do teto de gastos nos Estados Unidos, estar exposto a empresas com boa parte da receita dolarizada é uma vantagem. “Nesse caso, a Vale tem uma função um pouco defensiva”.
Embora o preço do minério de ferro tenha registrado forte recuo nos últimos meses, a companhia apresenta uma boa geração de caixa operacional e segue um “case” interessante em termos de dividendos, argumenta o executivo. “O minério de ferro da mina de Carajás tem uma qualidade muito superior ao das outras mineradoras. É por isso que a empresa tem um prêmio sobre o preço do minério em relação aos concorrentes”, diz.
Da mesma forma, ele pontua que a Weg é uma empresa com mais da metade da receita em dólar. “Ela tem um management [gestão] de qualidade, receita dolarizada e uma gama de produtos muito vasta, além de ter a vantagem que ela vem investindo na parte de mudança energética”, pontua Pedroso.
Além de empresas dolarizadas, o analista cita que a lista de sugestões mais recomendadas trouxe a volta das ações do Itaú Unibanco (ITUB4). Segundo ele, além de o banco ser beneficiado pela alta dos juros, os papéis devem ser favorecidos pela distribuição das ações da XP.
Isso porque com a cisão da corretora com o Itaú, milhares de acionistas do Itaú Unibanco passarão a deter BDRs (certificados de ações de empresa estrangeira que são negociados na B3) da XP.
Outro motivo que deve ajudar, de acordo com o especialista da Inside Research, é que os dividendos devem vir mais turbinado nos próximos meses. “Os bancos aumentaram as provisões de inadimplência [na pandemia] e agora devem voltar a distribuir mais dividendos como no passado. A distribuição deve voltar a níveis pré-covid”, destaca Pedroso.
Confira agora as análises sobre cada uma das indicações:
Com seis indicações, os papéis da mineradora Vale (VALE3) seguem na primeira colocação da carteira, empatados com as ações da Rede D’Or (RDOR3).
Ricardo Peretti, estrategista pessoa física do Santander, disse, em relatório, que o curto prazo deve ser bastante complicado para as ações da mineradora, por causa da crise imobiliária instaurada na China. Defendeu, no entanto, que segue com visão construtiva para a empresa no médio e longo prazos, porque ela está bem posicionada no mercado interno e externo, com fluxos de caixa fortes, endividamento controlado – e, além disso, é boa pagadora de dividendos.
A avaliação mais otimista para a companhia fora do curto prazo também foi compartilhada pelos analistas da XP. Em relatório, eles pontuaram que a desaceleração das atividades de manufatura em meio à crise energética na China e os cortes na produção do aço impulsionaram o recuo no preço do minério de ferro. Mas, segundo os especialistas da XP, a companhia segue apresentando forte geração de caixa.
Empatadas com a Vale na primeira colocação estão as ações da Rede D’Or, que reúne 58 hospitais em nove estados. Para os analistas da Ativa, a companhia vem se destacando com a volta dos procedimentos médicos eletivos, que também são mais rentáveis, e pela aceleração da taxa de ocupação dos hospitais – que atingiu patamares melhores do que os vistos pré-pandemia.
Outro ponto de destaque, na avaliação dos especialista da Ativa, está no fato de que os efeitos gerados pelos problemas financeiros da incorporadora chinesa Evergrande e demais eventos, como a retirada de estímulos nos Estados Unidos, não possuem correlação alguma com os resultados da Rede D’Or.
O crescimento orgânico e inorgânico da rede também tem chamado a atenção dos analistas da Guide. Para os executivos da casa, as aquisições feitas entre outubro de 2020 e junho de 2021 ajudaram a adicionar quase dois mil leitos ao grupo, além do que a rede adquiriu participações em novos estados.
Na sequência, com cinco recomendações, assim como os papéis da Weg, as ações preferenciais do Itaú Unibanco retornaram à carteira compilada pelo InfoMoney em outubro.
Para os analistas da Guide, o banco pode se beneficiar do cenário mais positivo para a expansão de crédito no segundo semestre, com destaque para os segmentos de pessoas físicas e pequenas e médias empresas. Além disso, segundo eles, a instituição deve ver um avanço nas receitas de serviços, especialmente para a parte de cartões.
Destaque também para a aprovação da cisão de participação na XP pelo Banco Central. Conforme explicaram os analistas, o processo pode “destravar valor com a distribuição das ações da plataforma para os atuais acionistas”. Os analistas destacaram ainda que o banco pode fazer aquisições, já que possui um “ótimo histórico” nessa seara.
Com cinco indicações, os papéis da Weg ficaram empatados com as ações do Itaú Unibanco na passagem de setembro para outubro.
Em relatório do Santander, Ricardo Peretti disse que a aposta nos papéis da empresa está ligada a quatro fatores: boa diversificação geográfica, o que ajuda diante de um cenário mais volátil para as ações da Bolsa brasileira; boa parte da receita ligada a mercados externos, beneficiando-se da valorização do dólar frente ao real; histórico inovador; e boa posição no movimento de eletrificação global em energias renováveis.
Os analistas da Guide seguem na mesma linha e destacam que a companhia vem apresentando contínuo ganho de participação de mercado (market share), além de ser um dos principais competidores no mercado brasileiro de energia eólica, atuando ainda no fornecimento de soluções completas para geração hidrelétrica.
Isoladas na terceira colocação estão as ações da B3, com quatro recomendações. Ainda que o ciclo de aumento de juros possa causar preocupação, os analistas da Ágora disseram que os níveis atuais de avaliação fornecem alguma proteção com relação a esse cenário.
Segundo os executivos da Ágora, a empresa está descontada em relação aos pares globais e pode oferecer, de acordo com as projeções da casa, um dividend yield (taxa de rendimento de uma ação apenas com o pagamento de dividendos) de 5,8% em 2022.
Peretti, do Santander, diz que também mantém visão construtiva para a empresa, ainda que o cenário seja mais delicado para a companhia no curto prazo.
No relatório, o especialista defendeu que tanto o risco de um novo concorrente no Brasil, quanto o de contingência ou da alta da Selic já foram precificados pelo mercado. Apesar de seguir otimista com a companhia, o analista do Santander optou por reduzir o preço-alvo das ações da B3 até o fim deste ano, de R$ 24,66 para R$ 22.
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