Apenas na renda variável, volume é de R$ 123,7 bilhões até setembro, o maior da série histórica
SÃO PAULO – O mercado de capitais brasileiro soma neste ano, até setembro, um volume de emissões de R$ 404,8 bilhões, entre ativos de renda variável, renda fixa e híbridos. O valor já ultrapassa o captado durante o ano de 2020 inteiro (R$ 371,9 bilhões) e é o segundo maior da série histórica, iniciada em 2011.
Os dados foram divulgados nesta terça-feira (5) pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). No período, os ativos de renda fixa e híbridos captaram R$ 281,1 bilhões e os de renda variável, R$ 123,7 bilhões.
Um dos destaques ficou com as debêntures, que captaram R$ 155,4 bilhões até setembro – o que representa 128,2% do total captado em 2020. Apenas no terceiro trimestre deste ano, o volume de emissões foi de R$ 56,5 bilhões, aumento de 119% na base anual, mas queda de 16,8% ante o segundo trimestre deste ano.
Na avaliação de José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, os dados mostram que os últimos meses do ano devem contribuir ainda para um recorde no mercado de debêntures. Ele chama atenção ainda para a continuidade do alongamento dos vencimento dos ativos, com novas emissões indo a mercado com prazos acima de dez anos.
Ainda que intermediários e demais participantes ligados à oferta representem a maior parte do volume (45,1%), o executivo destaca o aumento da negociação das debêntures no mercado secundário (volume R$ 57,1 bilhões, ante R$ 36,5 bilhões um ano antes), o que faz com que os papéis cheguem nas mãos de investidores pessoas físicas.
No mercado de renda fixa e híbridos, destaque para as ofertas de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que já superaram os volumes totais de 2020 com captações de R$ 21,2 bilhões e R$ 42,5 bilhões, respectivamente.
No mercado de renda variável, o volume captado até setembro é de R$ 123,7 bilhões e, mesmo antes do fim do ano, já é o maior da série histórica, segundo a Anbima.
Em 2021, as emissões somam volume de R$ 63,4 bilhões em ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) e de R$ 60,2 bilhões em follow-on (ofertas subsequentes). Laloni chama atenção para a diversificação das emissões entre empresas e setores da economia. No período, foram realizados 45 ofertas públicas iniciais de ações e 23 follow-on.
Apenas nos meses de julho a setembro, a Bolsa brasileira registrou 17 IPOs, que somaram R$ 27,5 bilhões – superando o desempenho trimestral dos últimos dois anos, com volumes de R$ 3,7 bilhões e R$ 9,5 bilhões em 2019 e 2020, respectivamente.
Com relação à participação por tipo de investidor, fundos de investimento mantêm a maior participação nas ofertas de ações, com fatia de 47,6% do total. Na sequência, aparecem os investidores estrangeiros, com 36,1%.
“Mesmo em um trimestre mais volátil, o mercado continua dinâmico e fazendo com que várias empresas consigam cruzar a linha de chegada e abrir capital na Bolsa”, disse Laloni , durante coletiva de imprensa nesta tarde.
E, se depender da fila da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a demanda deve continuar aquecida nos próximos meses. Isso porque hoje há 32 IPOs em andamento e 38 em análise.
Segundo o executivo da Anbima, o cenário mais volátil e negativo para ativos de risco, com queda da ordem de 6% do Ibovespa no ano, pode ser atribuído, em parte, ao ambiente de alta dos juros. Isso tende a deixar o investidor de ações mais seletivo e pode atrapalhar a emissão de novas ações na Bolsa, diz. No ano, seis ofertas foram interrompidas.
Além de o desempenho da Bolsa poder afetar positivamente – ou negativamente – os novos IPOs, questões setoriais também podem pesar sobre a decisão das empresas, avalia Laloni. É o caso, por exemplo, de empresas de tecnologia, que têm sido mais afetadas diante do cenário de aumento de juros, enquanto outras passaram por uma consolidação, caso dos setores de saúde e educação.
“Hoje o Ibovespa está sendo negociado por volta dos 110 mil pontos, mas já esteve em 120 mil pontos. O importante é o fluxo de empresas se preparando [para ir a mercado], mesmo aquelas que não conseguiram, que podem se preparar para um momento melhor. É assim que funciona quando temos um mercado mais democrático, como o que estamos começando a ter aqui no Brasil”, completou Laloni.
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