sexta-feira, 1 de outubro de 2021

“Ainda não estamos vendo o movimento que gostaríamos de ver no Brasil”, diz VP da rede de hotéis Marriott International | InfoMoney

Ricardo Caló, vice-presidente da empresa para as Américas Central e do Sul, falou sobre os desafios atuais do setor hoteleiro no FII Talks 2021

SÃO PAULO – A indústria do turismo foi uma das que mais sofreram com as restrições impostas pela pandemia do coronavírus desde 2020. Nem as grandes empresas do setor escaparam das consequências do período. Foi o caso do Marriott International, que opera uma das maiores redes de hotéis do mundo, com mais de 7.600 propriedades e 1,4 milhão de quartos. As operações da empresa na América Latina chegaram a cair mais de 70% desde a emergência sanitária se estabeleceu.

“Para contextualizar, a situação da América Latina, quando comparada a 2019, caiu mais de 70%. Na América do Sul, o número é ainda maior. Dependemos da distribuição das vacinas e ela foi lenta no continente em comparação com outros destinos”, disse Ricardo Caló, vice-presidente da Marriott International nas Américas Central e do Sul, em painel exibido nesta quinta-feira (30) durante o FII Talks 2021, principal evento online sobre fundos imobiliários do país, realizado pelo InfoMoney. “E isso, de certa forma, direcionou as viagens internacionais para países mais seguros em termos de Covid”.

Segundo Caló, nas regiões sob a sua liderança, cerca de 10% dos hotéis do Marriott International ainda não reabriram. Embora nem todos estejam inoperantes até agora por causa da circulação do coronavírus, essa foi a razão original do seu fechamento. “Dependendo do mercado, temos de seguir diferentes restrições. Por vezes, a capacidade de nossos hotéis, restaurantes e espaços de eventos é limitada”.

O segmento de resorts, de acordo com o executivo, é o que melhor tem se recuperado na hotelaria, especialmente no Caribe e no México. Por outro lado, os hotéis que dependiam fortemente de viagens corporativas são os que estão sofrendo mais com as restrições.

No Brasil, também houve impacto nas operações da rede – que, segundo Caló, dependiam de aspectos como a confiança do turista, do sistema de saúde e da distribuição de vacinas. “Estamos progredindo, essa é a boa notícia. O Brasil, como você sabe, tem uma limitação quanto à entrada de passageiros de alguns países e vice-versa, mas isso está começando a ser flexibilizado aos poucos”, disse.

Na visão de Caló, entre os países da América Latina, o Brasil figura em uma posição intermediária no que diz respeito aos efeitos da pandemia sobre o segmento de hotéis. “Não estamos vendo o movimento que gostaríamos de ver, negócios vindo de fora do país”, afirmou. “Mas o Brasil é um país muito forte, com o turismo local e doméstico. Quando o comparamos com nações que fecharam as fronteiras, e só analisamos as viagens nacionais, o Brasil está muito à frente dos outros”.

Apesar do futuro ainda indefinido, o executivo revela que monitora as oportunidades no país. “Tivemos a oportunidade de fechar acordo em Gramado (RS) e existem destinos como Minas Gerais em que não temos presença e esperamos ter hotéis no futuro. O Rio de Janeiro, claro, é sempre um local muito atrativo por conta de tudo o que a cidade oferece. Também observamos Santos e Porto Alegre”.

A pandemia do coronavírus ainda não acabou, mas já impôs mudanças significativas na sociedade. Na indústria hoteleira não tem sido diferente. “Muitas coisas vão mudar daqui para frente. Creio que certas viagens, possivelmente, serão repensadas no futuro. Mas eu realmente acredito que, em determinado momento, as viagens corporativas serão retomadas por causa da importância dos encontros presenciais”, disse Caló. “Nem tanto quanto hoje, mas também nem tanto quanto no passado”.

Para esta nova realidade do setor, Caló afirma que a rede tem investido em protocolos de higiene e tem na tecnologia uma aliada neste trabalho. O executivo destaca algumas implementações como a possibilidade de fazer o check-in usando aplicativos, abrir a porta do apartamento via celular e, nos restaurantes, acessar o cardápio por meio de um QR Code, em vez de uma versão em papel.

“Toda a experiência tem de ser revisada. Dependendo do seu destino, você tem de apresentar prova de vacinação e isso está crescendo. Você tem de fazer teste 24 horas antes da viagem e, após a chegada, provavelmente terá de fazer outro”, explicou. “A experiência como um todo está sofrendo mudanças drásticas. E isso é crucial para todos as partes do setor”, afirmou Caló, lembrando da necessidade de recuperar a confiança do turista.

Segundo ele, é preciso garantir que os hotéis estejam preparados em termos de higiene. “Revisamos todos os nossos protocolos. É um aspecto extremamente importante de nossos serviços. Sempre foi assim, mas quando a pandemia começou, a empresa formou um grupo que constantemente revisa o que tem sido feito para restabelecer a confiança dos nossos hóspedes”, disse o executivo.

Caló lembrou, porém, que o trabalho de oferecer maior segurança aos viajantes é de toda a cadeia do turismo, assim como dos governos. Ele citou, por exemplo, a necessidade de um sistema de saúde que funcione para receber o turista em caso de uma necessidade ou emergência.

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